domingo, 17 de junho de 2012

Balanços e Perspectivas - Segunda Divisão Paulista 2012

A primeira fase da Segunda Divisão Paulista está próxima do fim, e por questões de agenda, não conseguimos abordar todas as equipes do torneio. Faremos um registro histórico dos times que ainda não falamos e que foram eliminados, e continuaremos com o Guia em relação às equipes que avançarem. Por hora, faremos um balanço do momento, dando nossas opiniões sobre os desempenhos das equipes, se elas decepcionaram, se cumpriram suas expectativas, ou se as superaram. Outros dados serão considerados como as médias de público pagante (vistas só no blog Rbrito1984). Bem, sem mais conversa, vamos aos negócios;

Grupo 1

1º Votuporanguense (21 pontos) - 2º Tanabi (10 pts) - 3º Fernandópolis (9 pts) - 4º Grêmio Prudente (8 pts) - 5º Tupã - (8 pts) - AE Araçatuba (4 pts).


Votuporanguense

"Depois de anos batendo na trave, será que agora vai?" Essa era a pergunta que todo torcedor do Votuporanguense fazia antes do campeonato. O desempenho visto até o momento responde essa pergunta da melhor maneira possível. Único com uma campanha 100%, o CAV vem jogando bem, vencendo com autoridade, com a melhor defesa (4 gols sofridos) e o melhor ataque (11 marcados) do grupo. Além disso, o clube possui uma das melhores médias de pagantes do campeonato, com aproximadamente 2,000 pessoas por jogo. Agora é só não oscilar muito, fenômeno que vêm perseguindo a equipe nas últimas temporadas. A equipe já está classificada, não podendo perder o 1º lugar. Acreditamos que nos próximos jogos irá de time misto ou reserva, o que pode dar uma chance aos adversários que ainda brigam pela classificação.

Próximos adversários

Tanabi (em casa), Grêmio Prudente (fora) e AEA (em casa)



Tanabi

Daí pra baixo, o equilíbrio é a marca do grupo. O 2º colocado, Tanabi, surpreende, tendo em vista a campanha do ano passado, em que ficou na 1ª fase. O principal reforço, Túlio Maravilha, pouco atuou, e tendo marcado os 8 gols prometidos (todos em amistosos - paradoxalmente, em jogos oficiais, Túlio deu  3 assistências para gols; 1 vista e confirmada, outras 2 ouvidas e passíveis de desconfiança), voltou pro Botafogo. Apesar de toda a exposição que a passagem de Túlio trouxe, os cerca de 25 mil habitantes da cidade não se empolgaram muito, e o TEC está na modesta 19ª posição no ranking de média de público (263 expectadores por partida). A briga com o Fernandópolis e com o Tupã é acirrada, e pontos em casa não podem ser perdidos, como nas derrotas para Tupã e Votuporanguense, ambas por 1 x 0 (hoje, dia 17/06, o clube recebe o Grêmio Prudente, e a partir daí todos terão 7 jogos - uma vitória deixa o clube bem na briga pela 2ª colocação*). Os próximos 3 jogos serão importantíssimos para as pretensões do Tanabi, pois além de um CAV possivelmente relaxado, os dois últimos será contra rivais diretos. Se passar de fase, o TEC terá de melhorar, especialmente seu desempenho em casa, pois se em uma eventual 2ª fase cair em um grupo com adversários mais consistentes, fatalmente ficará pelo caminho.

Próximos adversários

Votuporanguense (fora), Fernandópolis (em casa) e Tupã (fora)



Fernandópolis

Outro que perdeu 2 em casa foi o Fernandópolis, 0 x 1 pro Votuporanguense na 1ª rodada e 1 x 3 pro Tanabi. Destaque negativo pra 2º partida contra o CAV, no "jogo" de 12 expulsões. Assim como o Tanabi, o Fefeçê também obteve bons resultados fora de casa, sobretudo os 3 x 0 sobre o Tupã, em um daqueles famosos jogos de 6 pontos. Entretanto, a equipe perdeu pontos importantes na derrota de 2 x 0 para o Araçatuba, que ainda que tenha sido fora de casa, tendo em vista o futebol apresentado pelo Canarinho na competição, foram sim pontos perdidos. O ataque com 10 gols pode até passar boa impressão, mas vale lembrar que até a vitória contra o AEA, era o 2º pior, com apenas 6 gols marcados. Só as próximas rodadas dirão se o resultado contra o Araçatuba foi um dia feliz ou se representa uma melhora real do time.

Próximos adversários

Tupã (em casa), Tanabi (fora) e Grêmio Prudente (em casa)



Grêmio Prudente

Empatado em número de pontos com o Fernandópolis, vêm o Grêmio Prudente. Esse Grêmio Prudente estreou esse ano, procurando se firmar (coisa que está difícil de acontecer na cidade nos últimos anos). Contando com uma boa estrutura e com um planejamento consistente, todos sonham com uma grande campanha, até com o acesso. É sabido que o 1º ano é mais um período de experiências do que de resultados efetivos. Porém, a chance de se classificar é palpável, mas para isso, o time tem de começar a apresentar um bom desempenho em casa; mesmo contando com uma boa média de público - 753 pagantes em partidas no Prudentão - o clube não venceu nenhuma partida em seus domínios. As únicas vitórias foram diante de uma periclitante AEA e do Tanabi (*adendo; depois do fechamento desse post, o Grêmio Prudente superou o Tanabi por 3 x 2, embolando de vez o grupo. A pontuação já estava atualizada, pois a FPF colocou a classificação, mas estranhamente, ainda não tinha informado o resultado do jogo). Esse último resultado pode embalar o time para os últimos 3 jogos, que possuem um cenário bem favorável.

Próximos adversários

AEA (em casa), Votuporanguense (em casa) e Fernandópolis (fora)



Tupã

Logo atrás vêm o Tupã, que também não apresenta um bom desempenho em casa, com apenas 1 vitória, sobre o AEA, por 4 x 2; no mais, foram 2 derrotas e 1 empate. Acompanhando a tendência do grupo, os melhores resultados foram obtidos fora de casa, no caso uma vitória contra o Tanabi e um empate com o Grêmio Prudente. Ainda que a equipe possa passar de fase, a menos que melhore, e muito, provavelmente não irá muito longe, pois se o ataque está na média dos concorrentes, com 9 marcados, possui a 2ª pior defesa do grupo, com 11 gols sofridos. Os próximos jogos serão fundamentais. Obter um bom resultado em Fernandópolis é essencial, vencer o AEA se não é obrigação, é quase isso, pra chegar na última rodada com certo conforto. A briga será pelo 3º lugar, lembrando que apenas os 3 melhores 4º colocados irão pra próxima fase, e depender desse quesito é extremamente arriscado.

Próximos adversários

Fernandópolis (fora), AEA (fora) e Tanabi (em casa)



AE Araçatuba

Por último, mas não menos importante, o Araçatuba. Voltando ao profissionalismo depois de 6 anos afastado, o AEA voltou, contando com uma parceria com a WPSB, empresa de Waldir Peres, que como goleiro defendeu a seleção, mas que como empresário ainda não vingou. Depois de desentendimentos, a empresa largou o projeto a menos de 1 mês antes do campeonato, o que complicou a já nada fácil situação do "estreante". Resultado; apenas 1 vitória (a já referida contra o Fernandópolis) e 1 empate (1 x 1 em casa contra o Tanabi). A média de 561 pessoas por jogo deixa certo otimismo para o sub-20 da Segunda Divisão no 2º semestre e para a Segundona 2013; os 14 gols sofridos nesses 7 jogos mostram que só uma revolução no clube o leva pra 2ª fase. Mesmo com 2 partidas seguidas em casa, não vemos a equipe como postulante à classificação.

Próximos adversários

Grêmio Prudente (fora), Tupã (em casa) e Votuporanguense (fora)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Improvável no Futebol - O Haiti na Copa de 74


O que é o improvável? É consenso que improvável vai no sentido do que vai contra todas as probabilidades, o que é inesperado. No futebol, esses momentos não são raros, longe disso. Um time que não era considerado favorito conquistava determinado título, ou uma vitória contra um adversário a quem o mundo inteiro já dava o triunfo, além de momentos, tão somente momento, improváveis. Por alguns instantes, a ordem vigente é subvertida. A diferença entre essa fração de tempo e uma conquista é que a segunda ficará eternizada, enquanto a primeira possivelmente se perderá, ficando apenas para aqueles que a viveram ou a presenciaram. Atualmente, temos à disposição vários meios, para que possamos ver sempre que possível esses fatos. Mas, e se em algum momento não for mais possível vê-los ou ouví-los? Tudo o que restará será a memória, a que foi vivenciada e a que foi construída, baseada naquilo que os que presenciaram o fato contam. Mas como saber se é verdade ou não? Bem, na maioria dos casos, não saberemos. Porém, no futebol, temos os dois lados, e em algumas oportunidades, três (pra mais até); os dois lados adversários e um terceiro, expectador, que não torçe nem defende nenhum dos envolvidos, está lá apenas para ver, apreciar, e nesses casos, se surpreender com o desenrolar dos fatos.

E esse é o caso de hoje, que aconteceu há 38 anos atrás, mais especificamente, na Copa do Mundo de 74, na Alemanha. A partida  era entre Haiti e Itália (estranho isso, a Itália é pródiga em proporcionar momentos improváveis em Copas do Mundo), o resultado final foi o esperado, mas por alguns instantes, mais especificamente o 1º  tempo e alguns quebrados do 2º, o mundo do futebol teve uma supresa.

Antes de falar da partida, será necessário abordar o histórico dos dois times, sobretudo do Haiti, por quê qualquer um que acompanhe futebol conhece, mesmo que minimamente, a história futebolística da Itália. Sobre o Haiti, salientamos que a seleção não foi bem no Mundial, longe disso. Entretanto, podemos dizer que era algo esperado, ainda que a equipe fosse uma potência no Caribe, se destacando pelo seu futebol ofensivo, e temos de ressaltar um número considerável de atletas foi jogar no exterior após a Copa. Tendo isso dito, achamos que seja possível falar da seleção e do futebol do país. Até aquela Copa, as maiores conquistas do futebol haitiano foram um 4º lugar nos Jogos Pan Americanos de 59 e um título da Liga dos Campeões da CONCACAF pelo Racing Haïtien, equipe dominante do futebol local. Futebol que estava estagnado, diga-se de passagem, ao ponto de ficar sem realizar o campeonato nacional de 72 à 83. O último campeão foi o Don Bosco de Pétionville, que conquistou o primeiro título de sua história na até então última edição do campeonato nacional. Posto isso, poderia ser dito que as perpesctivas sobre o time haitiano estavam longe de ser as melhores, até mesmo em nível regional. O Haiti era uma potência na região, mas competia com outros centros emergentes, como Trinidad e Tobago, e com países relativamente tradicionais, como o México.

Para se classificar para a Copa, os haitianos tiveram primeiro que superar Porto Rico. Os dois jogos foram vencidos facilmente (7 x 0 em casa e 5 x 0 fora), e a vaga para o Mundial seria decidida em um torneio, que seria realizado no próprio Haiti. Possivelmente, este foi o desejo do ditador do país, Jean-Claude Duvallier. O ditador era popularmente conhecido como Baby Doc, ainda que usar qualquer derivado da palavra “popular” depois de seu nome seja de um contrasenso imenso. Jean-Claude “herdou” o governo de seu pai, François, o Papa Doc, ditador que governou até 71. Como todos os ditadores, Jean-Claude Duvallier  se esforçava para passar uma impressão de “normalidade” no país, afinal, nem todos os governos do mundo são como o dos EUA, em que basta dizer que se odeia o comunismo, a União Soviética, e naquele momento e região, Fidel Castro e Cuba, para que se pense que seu governo é legal e amado pelo povo.

Apesar de jogar em casa, as expectativas não eram das maiores. Como já dissemos, o futebol do país estava parado, logo, a única oportunidade dos atletas atuarem era pela seleção nacional, o que a bem de verdade acabou aumentando o tempo para preparação. A base da seleção haitiana eram o Viollete e o Racing Haïtien, enquanto o atual Don Bosco cedeu apenas 2 jogadores. O técnico Antoine Tassy não tinha muitas opções, e teve de confiar em um moleque que havia começado a jogar no ano anterior, no caso Emmanuel Sanon. No final das contas, a seleção Haitiana foi a líder do torneio-que-servia-como-eliminatórias da CONCACAF. Com 4 vitórias e apenas 1 derrota, que veio na última rodada, ante o México, quando a classificação já estava assegurada. De fato o desempenho do time foi notável, mas houveram reclamações em relação a arbitragens suspeitas. O ditador Jean-Claude queria passar a impressão de normalidade, mas também queria a vitória, e ele não era lá muito discreto. Em um jogo contra Trinidad e Tobago, 4 gols dos visitantes foram anulados. Como era de se esperar, nada foi provado, mas pelo sim, pelo não, o árbitro que apitou o jogo foi afastado do quadro da FIFA. Essas reclamações foram feitas fora do país, afinal, a presença dos Toutons Macouté (milícia paramilitar do governo, que tinha o aval de caçar todo e qualquer opositor, ou qualquer pessoa que não colaborasse com o regime) era mais do que intimidadora. Seria difícil explicar um “sumiço” de um estrangeiro, mas era algo complicado dizer isso pras delegações dos países visitantes. Falando estritamente de futebol, “Les Grenadiers” tiveram um bom desempenho em partidas que em que pelo menos não encontramos reclamações e suspeitas, com a surpresa do técnico Tassy com o desempenho de “Manno” Sanon, que foi o artilheiro do time na competição, com 5 gols.

E assim o Haiti ia pra Copa, que naquela época, contava com 16 seleções, e como o futebol estava bem menos globalizado que hoje, a polarização entre europeus e sul-americanos era imensa, portanto, era justo pensar que a seleção haitiana ofereceria algo próximo de nada na Copa. Tudo isso dá um significado ainda mais forte ao feito dos haitianos.

E entrando nesse tópico, falemos da Itália, que ao contrário dos haitianos possuía uma história ríquissima no futebol. A Itália contava com jogadores como o goleiro Dino Zoff, considerado um dos melhores do mundo. Além disso, os italianos tinham o zagueiro Giacinto Facchetti, o meia Sandro Mazzola e o volante Fabio Cappello (sim, o técnico), e no ataque, Gianni Rivera e Gigi Riva, jogador que ajudou o Cagliari em sua mítica conquista do Scudetto. Todos tinham o objetivo de conquistar o título, que havia escapado em 70, na final contra o Brasil. Além disso, o time italiano tinha uma marca impressionante; 1143 minutos sem sofrer gols, honrado a tradição do catenaccio.

Quando saiu o resultado do sorteio, que colocaram o Haiti e a Itália junto de Argentina e Polônia, aí sim viram que as chances dos caribenhos tinham se reduzido a menos que 0. De fato, foi o que aconteceu, mas também esperava-se bem menos deles, que surpreenderam ao jogar um futebol ofensivo, ao ponto de ser insensato, como os outros jogos mostrariam. Pelo menos o espetáculo foi bonito, ao contrário do que seria caso o time ficasse atrás. E antes que nos consideram “anti-retranca”, saibam que achamos que um time que jogo feio, mas de maneira vibrante, pode sim ser bonito, à sua maneira, é verdade, como a Irlanda na Copa de 90, o Paraguai em 98 e sobretudo a Grécia da Euro de 2004. Sobre os haitianos, eles simplesmente não sabiam jogar atrás, afinal, conquistaram tudo o que conquistaram até então atacando, então por quê mudar?
Seja como for, foi com esse cenário que o jogo ocorreu. Boa parte dos italianos pensava que enquanto Argentina e Polônia se matariam, sua seleção daria um salto passando por cima do Haiti, e acreditavam nisso pautados em fatos concretos. Como amantes do futebol, eles já devem ter aprendido que o futebol pode ser qualquer coisa, menos algo que pode ser lido através de fatos concretos. “Mas era o Haiti, ora pois!”, Temos certeza que esse pensamento passou pela cabeça dos tifossi (mas duvidamos que a expressão “ora pois” tenha sido a utilizada, mas foi a melhor que encontramos). Podemos dizer que se não fosse o Haiti (ou qualquer outra equipe com histórico semelhante) não seria uma surpresa ou um fato improvável.

Assim sendo, a partida ocorreu no dia 15/06/1974, às 18:00, no estádio Olímpico de Munique, com um público de 53 mil pessoas. Enquanto os italianos que não puderam ir para a Alemanha assistiam ao jogo no mesmo fuso horário, para a população haitiana, a partida passava ao 12:00 em Porto Príncipe, capital do Haiti. De fato os haitianos tinham preocupações bem maiores que um jogo de futebol, mas acreditamos que eles devem ter dado uma espiada na partida.

Antoine (9), Vorbe (7) e Jean-Joseph (12) cercam um jogador italiano
Sem mais delongas, vamos para a partida. Muitos poderiam pensar que Les Rouge et Noir estavam intimidados com o fato de enfrentar os bi-campeões mundiais, e esse podia ser visto na fala de um de seus principais jogadores, justamente o que ficaria marcado naquela partida; “todo mundo perguntava quem poderia bater Dino Zoff. Os jornais falavam em jogadores europeus ou sul-americanos, mas ninguém pensava que um Haitiano poderia fazer isso. Isso me irritou por quê eu sabia que poderia fazer isso”, era o que Emmanuel Sannon dizia. Bem, quando o juíz apitou o início da partida, ela começou de uma maneira inesperada; com a Itália atacando. O ataque do Haiti, principal arma do time, pouco fez contra a defesa italiana durante o 1º tempo. Quem apareceu mesmo foi o goleiro Françillon, com defesas surpreendentes, verdadeiros milagres, que serviram como um prenúncio, avisando que as coisas não seriam tão fáceis como todos pensavam. Com o passar do tempo, os haitianos começaram a sair um pouco mais, exigindo algo de Zoff, enquanto Françillon continuava fazendo milgares. Nessa toada, o 1º tempo acabou empatado, o que deve ter sido encarado como um lucro imenso por Tassy. Definitivamente, os 45 minutos iniciais terminarem em um empate sem gols foi algo inesperado, mas todos ainda estavam tranquilos, afinal de contas, Françillon se desdobrou debaixo da meta caribenha, e seria questão de tempo até que fosse vazado. De toda maneira, acreditamos que o pnsamento geral é de que o goleiro continuaria a operar milagres e o placar seria mais apertado que o esperado.

Com isso em mente, as duas equipes voltam para o 2º tempo, e logo no começinho, Fachetti tenta um pequeno lançamento, que acaba interceptado não se sabe por quem. Alguns dizem que foi Andre, outros afirmam que foi Bayonne, e não são poucos que falam que o jogador era Desir. O que se sabe com certeza é que a bola cai no pé do meia Vorbe, que achou um raro buraco na defesa italiana, dando um passe preciso para Sanon, surpreendendo o marcador, Cappello. Manno vence no corpo a corpo Spinosi, que ainda tenta puxar sua camisa, ficando cara a cara com Zoff, goleiro que estava a mais de 2 anos sem sofrer gols. A situação exigia colhões, e Sanon foi pra cima de Zoff e deu um corte rápido e seco. O arqueiro, quando viu que o atacante haitiano ia embora, ainda fez um movimento pra tentar pegá-lo, mas não deu; Haiti 1 x 0 Itália. Tudo em 3 toques, todos conscientes, todos perfeitos. Nas transmissões de TV dava-se pra ver um sujeito estupefato, sem acreditar no que acontecia, além é claro, da delagação haitiana vibrar como nunca havia-se visto.

Auguste e Riva duelam por uma bola
Depois do susto, os italianos trataram de acordar e em 26 minutos acabaram com a festa haitiana, com gols de Rivera, Benatti e Anastasi. Todos os gols foram petardados ignorantes, que talvez nem o Super Homem pegaria, exceto o de Benatti, que contou com um desvio providencial de um zagueiro, que assim como no lance do gol haitiano, ninguém sabia quem era. No restante da Copa, a defesa do Haiti demonstrou possuir a capacidade de levar vários gols em um curto espaço de tempo; levaram dois da Argentina em 3 minutos, e incríveis 5 gols em 17 minutos, contra a Polônia. Em se tratando de números, o Haiti só não foi pior que o Zaire (atual República Democrática do Congo), mas números são apenas números, e ainda que digam coisas importantes, não são absolutos. Os haitianos voltaram pra casa em clima de festa, com a população, que conseguiu um tempo e que deixou de lado por alguns instantes os problemas do país, mais do que satisfeita com o desempenho da equipe. Muitos dos jogadores foram contratados por times estrangeiros, a maioria para times dos EUA, já pro futebol europeu, vimos os casos do goleiro Françillon, que ficou na cidade que o consagrou, Munique, mas do lado 1860 München, e Sannon, que foi para o futebol belga, no Germinal Beerschot. Como já ressaltamos, o país passava por um período difícil, tanto na política, com a ditadura de François Duvallier, como na economia, vítima do imperialismo. Sair do país não era lá um mau negócio, e era algo compreendido pela população, que não via aqueles que foram embora como "traidores", ou qualquer coisa do gênero.

Zoff e Sannon
Aquela foi a primeira, e até o momento última, participação em Copas do Mundo do Haiti. Nem os 100 jogos e 47 gols de Sanon pela seleção ajudaram o país a se classificar de novo, ou a conseguir outra glória, e muito disso passava pela já referida suspensão do campeonato nacional (1972-83), além é claro da própria situação do país em si. Apesar do auge do futebol haitiano ter se dado durante o período ditatorial, não encontramos nenhuma informação de que em algum momento os jogadores, ou o próprio futebol, foram perseguidos e discriminados pela população.

 Após encerrarem a carreira, os jogadores que não conseguiram sair do país passavam por uma situação financeira difícil. Somente em 2008 os atletas, e as famílias daqueles que já faleceram, passaram a receber uma ajuda. Muito dessa ajuda foi motivada pela mobilização causada pelo falecimento de Sanon, que não resistiu a um câncer no pâncreas.




Pode-se dizer que Sanon foi aclamado pela população como o melhor jogador haitiano da história, e seu gol em 74 é lembrado até hoje, e todos o descrevem exatamente como o próprio jogador fala; “Com meu ritmo, você não pode me deixer com só um zagueiro, mas foi isso que aconteceu. Eu estava no mano a mano com Spinosi. Eu recebi um passe do Vorbe. Eu venci o zagueiro com minha velocidade. Mano a mano com Zoff, e o gol estava todo aberto. Eu finji que ia pra esquerda, mas eu fui pra direita. Eu o bati, e o rolei a bola pra rede”.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Explicações

Os visitantes e leitores desse blog devem ter percebido que já faz um tempo em que não há nenhum conteúdo novo. Podemos dizer que é justamente isso que nos falta; tempo. Tempo para pesquisar fontes mais do que escondidas e escrever algo relativamente bem formulado. Passamos aqui para avisar que no momento, as atualizações ficarão mais esporádicas. Não pararemos com o blog, longe disso, principalmente agora, que estamos a beira de completar 600 postagens, o que cremos ser um recorde para um blog com essa proposta. Apesar de não exibirmos um conteúdo que chame a atenção do grande público, o Futebol Interiorano conta com um número satisfatório de visitas mensais, algo entre 1,500 e 2,000. Assim sendo, só estamos avisando que haverão meno postagens, mas isso nos dará possibilidade de procurar fazer algo ainda mais diferenciado. Contamos não só com a compreensão, mas com a ajuda de todos que contribuíram com o blog por esses quase 3 anos. Estamos com algumas ideias em nossas cabeças (onde mais teríamos ideias?), e elas aparecerão em breve. Até lá.