sábado, 16 de maio de 2015

Grêmio Mauaense x USAC (ou "Nos Tempos de Santilhana. ")


Sábado à tarde, data em que grande parte das pelejas das divisões de acesso ocorrem por todo o país. Devem ter ocorrido várias, mas optei por aquela que era mais acessível, ou menos inacessível, dependendo do ponto de vista: Grêmio Mauaense x União Suzano (aqui vai uma observação; por caprichos do destino, Suzano tem dois times chamados União Suzano, o USAC, que é o que vi hoje, e o ECUS. Geralmente, o primeiro é referido pelo nome em extenso, enquanto o segundo é pela sigla mesmo). A questão da acessibilidade ao estádio Pedro Benedetti se dá por conta de que eu moro ao lado da Mauá, mas não há uma linha inter-municipal, então tenho de ir ao centro da minha cidade, e de lá pegar um trem para Mauá City. Sempre me pareceu absurdo pegar duas conduções para um lugar tão próximo, sendo que eu uso isso pra ir pra São Bernardo, por exemplo. Seja como for, passei por cima dos meu conceitos de absurdo e fui para o estádio, que fica perto da estação, coisa de 10 ou 15 min de caminhada.

A partida teve início pontualmente às 15h, mas me atrasei um pouco, coisa de 15 min, pois tive o azar de perder um trem. Outro fator que colaborou com o atraso foi a nova entrada do estádio: antes, o acesso se dava pelos portões em frente à av. Papa João XXIII, agora, é necessário dar a volta pelo estádio, subindo uma longa ladeira, para aí sim poder ver o campo. Chegando nas bilheterias, houve um outro problema: não havia troco. Tive de comprar uma cerveja na barraquinha em frente para conseguir ter uma nota de 5 Dilmas, valor da meia entrada. Ao contrário do que ocorre em grande parte do estádio, não haviam policiais fazendo a revista, e o tiozinho que estava nas catracas liberou minha entrada de boa.

Finalmente dentro do estádio, logo encontrei o amigo Folego, junto de outros dois amigos, ambos torcedores do Grêmio, mas que ficarei devendo o nome, pois não fomos devidamente apresentados. A partida ainda estava 0 x 0, e os mandantes jogavam bem melhor, como foi em quase todos os jogos da competição. Se leram o relato que fiz sobre o jogo contra o São Bernardo, viram que durante o 1ª tempo o time de Mauá foi bem melhor, tomando o empate no 2º, quando simplesmente parou de jogar. Segundo Folego, o maior exemplo foi na derrota contra o Guarulhos, em que o time saiu na frente, mas depois que tomou o empate, tomou 3 gols em pouquíssimo tempo.

Devidamente acomodado nas dependências do estádio (que estava com muito espaço disponível) , pude ver o bom começo do Mauaense, que pressionava muito os visitantes, que por algum motivo desconhecido estavam jogando de coletes azuis. Ninguém entendeu muito bem, pois a camisa do USAC é vermelha, e o Grêmio estava de branco, então não havia motivo para isso. Mistérios da vida. Enquanto divagava, vi um pênalti claro não marcado para o time da casa. O atacante recebeu dentro da área, na direita, acompanhado somente do goleiro de um zagueiro: o atacante (que não consegui identificar quem era) deu um corte seco no defensor, que claramente o derrubou, mas o juiz achou que não foi nada. A cara de alívio da defesa do União o lance era mostra de culpa no cartório. O prejuízo pro Grêmio foi ainda maior, quando no contra-ataque originário desse lance o USAC consegui uma falta na sua esquerda - lembrando que a direita de um time corresponde à esquerda do adversário -. Bola alçada na área, saída esdrúxula do arqueiro e o defensor Renan escorou para marcar União Suzano 1 x 0, aos 43 min. A partir daí, foi possível perceber duas coisas: o emocional do Grêmio Mauaense é muito frágil, e que o União Suzano não estava de coletes, aquela era a sua camisa mesmo: vermelho nos lados e azul no meio, com os números em uma cor que era mistura de preto e vermelho, desbotado ainda por cima.
Área das árvores, onde segundo a lenda o Fantasma da Blusa Vermelha assistia os jogos.


Os minutos finais do primeiro tempo foram mornos, muito mornos, mas por sorte foram poucos minutos, e nesse espírito logo o intervalo chegou, e nele pude ouvir muita coisa boa, sobretudo a história de Santilhana. Na história, Santilhana foi um grande atacante, grande em técnica e velocidade, pois em tamanho era pequeno, o que segundo o próprio lhe dava vantagem, pois a distância do cérebro pros pés era pequena. Também segundo o próprio, era um galã sem igual no futebol de seu período, em que o futebol profissional não era tão restrito, e não raro jogadores do amador conseguiam um lugar nos profissionais. Por não ser dos atletas mais regrados do mundo, e sabendo que teria de se adequar à uma rotina, Santilhana preferiu ficar no amador, onde poderia gozar à vontade tudo quanto era esbórnia. Os tempos de jogador acabaram, mas ainda havia o desejo de viver o futebol, mas não como treinador, técnico, dirigente, nada que envolvesse a administração do jogo. Santilhana foi para a arquibancada, viver com os torcedores de diversos clubes, vendendo petiscos e aperitivos, e desde então, passou a ser conhecido como Galinha do Amendoim, figura onipresente nos estádios da Grande São Paulo. A história pode parecer absurda, mas é muito absurda para ser mentira, além do mais, tudo que tenha o "Selo Galinha de Qualidade" é bom e verdadeiro. No mais, ganhei do amigo Folego um Guia da Segunda Divisão Paulista, editado pela própria FPF. É uma pena que a Federação não comercialize esse livro, nem que fosse por reserva...

Seja como for, depois de tudo isso ainda houve uma introdução à história do Fantasma da Blusa Vermelha, que nos anos 90 e início dos 2000 sempre estava vendo os jogos na zona das árvores, a mais inacessível de todo o estádio, sempre com uma blusa vermelha de capuz, fizesse chuva ou sol. Quando ia perguntar mais detalhes, começou a segunda etapa, em um ritmo frenético, novamente com o Grêmio melhor, e logo aos 15 min., Chocolate, que havia entrado depois do intervalo, recebeu um cruzamento no bico da área. Matou a bola no peito, tirando o zagueiro, e bateu com curva no canto esquerdo do goleiro, que nada pôde fazer, e o jogo estava empatado. Chocolate entrou em catarse, tirando a camisa, vibrando e correndo feito um alucinado. A partir daí os mandantes pressionaram feito loucos, e nessa tomaram um contra-ataque, em que Paraíba recebeu lançamento, venceu o zagueiro na velocidade, cortou o goleiro e finalizou: União Suzano 2 x 1. Ainda haviam pouco mais de 20 min, para o fim da partida, e o que se viu foi um Grêmio indo com tudo, mas de maneira desorganizada, e um União que não conseguia fazer nada além de se defender. O que mais chamou a atenção foi o lateral esquerdo do Mauaense, que na verdade era um zagueiro improvisado, e que vendo a situação do time, jogou praticamente como um ponta. Via-se o esforço do rapaz, e que tão somente esse esforço gerava boas jogadas, mas que não eram o bastante, seja pela falta de técnica pro negócio (técnica que pode ser aprendida), seja pelo abatimento de seus companheiros. Nessa toada o jogo acabou com vitória dos de Suzano, que somam 5 pontos em 4 jogos. Do outro lado, o Grêmio, com apenas 1 ponto conquistado, divide a lanterna com o ECUS, com mais 14 jogos para serem disputados, ou seja, muita coisa ainda pode acontecer.

Já eram 17h, e decidi fazer algo que nunca tinha feito: ir do estádio para minha casa à pé. Basicamente era só seguir a Papa João XXIII e virar a esquerda na última bifurcação. Achei que demoraria uns 40 min, mas foi aproximadamente 1 h e 10 min. Valeu a pena, ainda que andar pelo Sertãozinho (trecho que liga Santo André e Mauá) no final da tarde não seja muito recomendável, pela ausência de calçadas e iluminação ruim. Assim sendo, é uma boa alternativa para ir pra o estádio em um horário de claridade.

Agora é ver qual será a próxima partida a ser vista in loco. Até lá.