Cá estamos novamente. Depois de muito tempo sem nenhuma entrevista, conversamos com Leandro Giudici, jornalista que trabalha na região do ABC e torcedor apaixonado do Palestra de São Bernardo. Todos nós ficamos tristes com o afastamento do PSB do profissionalismo, mas com certeza os torcedores dessa tradicional equipe ficaram bem mais abalados. Nisso, pedimos pra Giudici expressar sua opinião sobre o fato. Desde já agradecemos a Leandro por ter nos atendido, desejamos sucesso à ele, e que o Palestra volte a dar alergias a seus torcedores.
lá, como vai? Aqui vão algumas perguntas sobre o Palestra. Serão poucas, tendo em vista que não tem muito tempo. Desde já agradeço, e desejo uma boa semana pra ti. Aí vão;
Antes de tudo, olá. Gostaríamos que falasse de como começou esse sentimento pelo Palestra?
Via o Palestra pelos jornais e achava curioso o nome ser parecido com o do Palmeiras. Comecei a acompanhar de perto em 2004 quando entrei para a imprensa e comecei a ser setorista do clube. Você passa a ver as dificuldades de perto e passa a torcer pelo time, pelo sucesso dos atletas, do treinador. Na época o Palestra era o único da cidade. No ano seguinte, criaram o São Bernardo FC, um time cheio de privilégios, endinheirado, já nasceu no âmago da administração municipal e achei aquilo injusto com o Palestra que comia 'grama' a tempos, e isso foi me dando ainda mais carinho pelo clube. Em 2006 ajudei a fundar a torcida do Palestra, a Loucos do Palestra, uma torcida de paz, apenas com o objetivo de apoiar. No mesmo ano fui chamado a ser assessor de imprensa do clube e lá fiquei por cinco anos. A paixão só aumentou cada vez mais, o Alviverde tem uma história apaixonante e toda uma mística que encanta.
Qual foi o momento mais marcante que você vivenciou como torcedor do Palestra? (Adendo, Alviverde Batateiro é um apelido depreciativo?)
Alviverde Batateiro é um apelido completamente carinhoso. Todo sambernardense gosta de ser chamado de Batateiro, que é um apelido que vem lá de trás da rivalidade entre bernardenses e andreenses. É dificil escolher um apenas, mas acho que Taubaté em 2009 quando quase subimos, embora não tenha tido final feliz, foi um dos mais marcantes, estivemos a 30 minutos do acesso à Série A3. Saímos na frente com um estádio abarrotado, com cerca de seis mil pessoas, nosso goleiro pegou um pênalti, mas eles conseguiram virar, até porque haviam muitos fatores contra o Palestra aquele dia. Em 2010, conseguimos três viradas espetaculares sobre EC São Bernardo, Mauaense e Guarulhos que foram inesquecíveis também. Somos um time tradicionalmente de muita garra e raça. Quem chega ao clube acaba se contagiando com essa transmissão de amor que vem da torcida.
Os clubes do ABC sofrem com a concorrência dos clubes da capital, e no caso específico do PSB, o que pode ser feito para atrair mais público e gerar mais torcedores? Se não nos enganamos, em uma pesquisa relativamente recente, constatou-se que o Palestra era o segundo time com mais simpatizantes no ABC, então por quê as médias de público não são boas? Pois mesmo com os times da capital por perto, acreditamos que é possível ter médias mais altas.
A sombra que a Capital faz no ABC inteiro realmente é um fator muito negativo. Atrapalha em muitos aspectos, desde o cultural, ao político, até o esportivo. Estamos há 20, 30 minutos do Pacaembú. Nossa mídia regional, embora esteja aos poucos melhorando é predominantemente da Capital, isso é péssimo. Deveríamos ter uma afiliada de uma grande emissora, temos mais de 3 milhões de habitantes. Mas, acho que os clubes promovem pouco as suas marcas, não conseguem fazer nenhuma ação que mobilize torcida, que venda seus produtos, sua marca decentemente. No Brasil, os torcedores querem resultados apenas, não ligam pro clube que representa sua cidade, que tem história, tradição, isso se perdeu muito em São Bernardo também graças a forte imigração que ocorreu na cidade com a industrialização. As pessoas acabam não tendo raízes.
O que o Palestra precisa fazer urgentemente para mudar isso, primeiro é voltar ao profissionalismo, segundo é conseguir bons resultados. O Palestra sempre foi muito querido, número de pessoas nas arquibancadas não diz nada, o São Paulo mesmo não tem um torcedor habituado a ir a todos os jogos, ela virá conforme vencermos. Sempre fomos um clube popular, aberto a comunidade, muita gente passou nas escolinhas do clube, pelos veteranos, nos outros esportes que já tivemos, isso cria carinho nas pessoas. E acho que nossa tradição também é algo que nos torna muito simpáticos e queridos, embora essa paixão esteja empoeirada, o clube não soube trabalhar isso ao longo dos anos. A maior torcida 'clubista' de São Bernardo é a do Palestra. Nós estamos lá apenas por amor, não por resultado, ou porque é moda na cidade, isso pra mim é ser torcedor de verdade.
Agora, sobre a desistência do clube de participar de competições esse ano, na sua opinião, a que isso se deve? Se acha que houve um equívoco na política do clube, onde e quando ele foi cometido?
É evidente que a diretoria vem se equivocando ano após ano. Em 2009 por exemplo, estivemos a um passo do acesso com uma excelente parceria que não conseguimos manter por alguns fatores políticos, mas também porque o Palestra não soube cumprir sua parte na parceria. Em 2010 chegamos a montar um bom time, mas sem parceiros e ainda tomamos um W.O., que é algo vergonhoso para um time amador, imagine para um profissional! Em 2011 fomos o penúltimo colocado entre todos do Estado (e só a frente do Nacional porque ele foi punido). Neste ano, pedimos licença. Ou seja, as coisas não vem bem desde que a presidência atual comandada pelo José Fábio Cassettari Neto assumiu. O erro principal está em não ter projeto nenhum, não há planejamento, tudo é empurrado com a barriga. Seria tolo se não levasse em conta que o clube nunca foi o preferido da administração municipal e sofre com as investidas do rival que sempre sonhou em nos ver extinto, mas o Palestra tem seu próprio espaço, há alternativas.
Fecharam as portas do clube aos palestrinos, hoje o conselheiro, os palestrinos e o morador do Ferrazópolis, que adotou o Palestra como seu representante, não sabem o que funciona dentro dos muros do clube, nos encolhemos cada vez mais e as poucas pessoas que se aproximam saem magoadas de lá, pois não recebem respaldo e nem respeito das pessoas. Falta zelar pelo nome grandioso que temos no cenário do futebol, falta ter a dimensão de que para chegarmos aos 76 anos muitos abnegados dedicaram décadas de suas vidas, quando souberem disso já será um grande passo. No último aniversário do clube não apareceu ninguém da diretoria, o presidente não vai aos jogos e não deu uma sequer declaração sobre sua decisão... Não estão tratando o Alviverde como ele merece!
Qual foi a repercussão da desistência do Palestra de competir?
Todos no futebol paulista lamentaram. É uma repercussão péssima, afasta as pessoas de perto do clube, evidencia que estamos caminhando para trás. A comunidade palestrina fica triste. As pessoas torcem por um time em campo. Ver seu time cair de divisão, ir mal em um campeonato é sem dúvidas muito triste, mas ver seu time afastado é um castigo muito grande. Eu imagino a frustração de quem trabalhou com tanto afinco pela agremiação ver o clube no estado em que está.
E a seu ver, o que pode ser feito para manter o Palestra ativo, e mais, competitivo?
Abrir as portas aos palestrinos! Não se pode gerir um clube deste tamanho e dessa importância com duas, três pessoas. Além de um equívoco é arrogância! As pessoas possuem pré disposição em ajudar, especialmente aqueles com passado ligado ao clube, que são muitos, elas precisam de espaço e autonomia pra isso. Nossa sede social é algo grandioso, uma estrutura que poucos clubes grandes possuem, é preciso saber explorar isso da forma correta, vender a marca, explorar o fato de estarmos em um bairro periférico, promover ação social. Hoje o que temos é uma piscina suja e o mato na altura das pernas, é tudo vazo, sem ninguém. É preciso parar de tratar o clube como uma herança familiar e lembrar que ele pertence a coletividade palestrina. O nosso potencial é gigantesco e isso entristece ainda mais o fato de estarmos afastados do futebol e sem projeto algum para retormarmos ele. O Palestra tem algo que muitos almejam hoje, uma vaga entre os profissionais, isso abre grandes portas, mas não basta esperar sentado que alguém toque a campainha da sede para oferecer apoio, é preciso saber buscá-lo, e há muitos meios para isso. Um deles é aproximar o Palestra dos palestrinos.
Todo torcedor palestrino (e todo amante do futebol) possui a esperança de que a equipe retorne, mas há expectativa de que esse retorno se dê em breve? A torcida está se mobilizando nesse sentido?
Aguardamos e cobraremos para que voltemos logo! O Palestra sempre possuiu vários outros esportes, mas sua essência, sua razão de existir sempre foi o futebol. Mesmo longe dos profissionais, fomos os melhores do futebol amador da cidade por longos anos. A torcida está reunindo os palestrinos de várias épocas, como ex-jogadores, veteranos, etc para se juntarem a nós e exigirmos uma gestão profissional e que apresente projetos. Não somos apenas moleques revoltados, temos nossas propostas e levaremos elas adiante. Acho importante que as próximas eleições também sejam transparentes, abertas.
Que mensagem você deixa não só pra torcida palestrina, mas para todos que torcem, apoiam e amam os times de suas cidades e regiões?
Não deixem nunca de amar o Palestra, enquanto houver amor continuaremos a existir. Já sobrevivemos sem uma sede, estávamos quase mortos, mas o amor de algumas pessoas nos fez continuar existindo. Não é fanatismo, porque isso não leva a nada, é amor. Não importa se ele não estiver em campo, nosso Palestra é maior que isso e muito maior que qualquer pessoa ou sobrenome. Não podemos e devemos permitir que a arrogância de algumas pessoas se sobreponha a nossa instituição, não temos um dono, o Palestra é de todos nós! E se engana quem pensa que desistiremos, vamos até as últimas consequências para ver nosso time voltar a brilhar.
Bem, é isso, agradecemos pela atenção, desejamos boa sorte pra você e para o Palestra. Se quiser dizer qualquer coisa nesse espaço, fazer qualquer adendo, pedimos que o faça, por favor. Novamente, muito obrigado e até breve, abraços.
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