domingo, 2 de setembro de 2012

A Escandinávia na Champions 2012-13


Com toda certeza, a UEFA Champions League é o torneio menos alternativo do mundo, por motivos óbvios. Porém, de uns anos pra cá, graças a uma política adotada pela UEFA, a competição está começando a fazer jus ao nome, passando a ter mais campeões. De fato, o nível técnico da competição caiu um pouco, pois se antes tínhamos o 4º colocado do campeonato inglês, hoje temos o campeão da eslovaco. Apesar dessa perca de nível, venhamos e convenhamos, é bem mais legal ver times campeões de torneios com uma realidade completamente distinta, além de se uma chance de presenciarmos partidas de centros menores. Indo nessa direção, cremos ser pouco provável que haja time mais alternativo nessa Liga dos Campeões que o Nordsjaelland, que é alternativo até mesmo em seu país, a Dinamarca.

Se pedirmos para qualquer o nome de algum clube dinamarquês, poucos saberão falar sequer o nome de 1. Talvez o Copenhague (Kobenhaven para os mais íntimos), e para os que acompanham o esporte na terra que serviu como cenário de Hamlet, certamente apontarão o Brondby, time que revelou os irmãos Laudrup.
Desde que o Campeonato Dinamarquês assumiu o nome de Superliga, em 91, vimos 6 campeões, sendo que o já citado Copenhague domina o futebol local, com 9 conquistas nesse período, além de várias participações na fase de grupos da Champions, que sempre traz uma bela grana. Pra ser mais exato, das 9 conquistas do time da capital, 8 ocorreram na década passada, com o clube montando bons plantéis com o dinheiro ganho justamente nas participações da competição continental. Bem, mas o assunto não é o FCC (ou FCK, dependendo do freguês), e sim o Nordsjaelland.

Pretendemos falar do time que vai disputar essa Champions, mas falar sobre a história do clube parece ser uma boa ideia. O Nordsjaelland é fruto de uma peculiaridade do futebol dinamarquês; falta de dinheiro = fusão. Muitos clubes passam por crises financeiras, e o meio mais praticado para continuar na ativa é promover fusões entre clubes, o que lembra bastante o futebol paranaense. O próprio Copenhague é fruto de uma fusão, que inclusive envolveu o clube mais antigo da Europa continental. No caso do time abordado hoje, a fusão ocorreu entre o Farum IK e o Stavnsholt BK, fusão esta encorajada pelo até então prefeito da bucólica Farum (localizada à 25km da capital Copenhague), Peter Brixtofte, e no principio, o time se chamava Farum BK. Sobre os dois clubes que deram origem ao atual, pouco se sabe. Chegamos a pesquisar fontes dinamarquesas, mas não encontramos nada. Em relação ao prefeito, bem, encontramos muito, até demais pra falar a verdade. Brixtofte governou a cidade de 85 à 2002, conciliando o cargo político com a presidência do clube, e atualmente está preso por corrupção, e o Farum foi um dos alvos do político. Em 2002, o político-cartola fez um acordo com uma série de empresas que atuavam na cidade; o poder público pagaria valores superfaturados por serviços básicos, e em troca, essas companhias patrocinariam o time, e esse foi apenas um dos vários escândalos que envolveram Brixtofte.

Esportivamente falando, em apenas 11 anos, o Farum atingiu a elite do futebol local, e logo em sua primeira temporada na 1ª Divisão, conseguiu uma vaga na Copa da UEFA 2003-04, onde acabou eliminado na 3ª eliminatória para o Olympiacos, com direito a uma sapatada de 5 x 0 em Atenas.

Depois desses eventos controversos, o clube quase vai a falência, pois não havia ninguém no comando, e não se sabia de onde sairia dinheiro para manter o clube. Nisso, o time é adquirido por uma companhia, que é comanda pelo empresário Allan Pedersen, em 2003, adotando o nome atual, que nada mais é que o nome da região em que está situado, a Zelândia do Norte. A mudança de nome teve basicamente duas motivações; Pedersen nunca escondeu que queria livrar o time da má imagem trazida pelo escândalo com Brixtofte, e a outra é uma suposição nossa. Farum é uma cidade com apenas 18,000 habitantes, o que a torna pequena até mesmo para os padrões dinamarqueses, e além disso, podemos cravar que quase metade dos habitantes são imigrantes. Pensando nisso, adotou-se um nome que atendesse toda a região, o que poderia trazer mais apoio da população das cidades vizinhas. Indo nesse sentido, a nova diretoria firmou parcerias com várias equipes da região (cerca de 50), que são das divisões de acesso do dinamarquês, ou amadoras mesmo, em que o clube tem preferência de compra para atletas tidos como promissores. Além disso, esses clubes são beneficiados com alguma ajuda, indo de uma quantia monetária, amistosos, uso da estrutura do Nordsjaelland para treinos, e empréstimo de atletas.

Porém, nem tudo são flores nesse processo. Pedersen é um empresário, logo, espera obter algum tipo de retorno, o que ficou evidenciado em um episódio, quando cogitou-se a mudança de cidade para o time, pois em Farum muitos ainda não esqueceram o episódio de 2002, e a equipe parecia não receber o apoio necessário. Ao que tudo indica, isso foi superado, pois o time apresenta uma média de aproximadamente 5,000 mil expectadores por jogo, o que não é muito, mas considerando os 18,000 habitantes e os 10,000 lugares disponíveis no Farum Park, não é de todo ruim, e há um dado que deve ser observado; o recorde de público da cancha foi atingido no último jogo da temporada passada, no dia 23/05 desse ano, contra o Horsens (que estranhamente recebeu 10,300 torcedores). Logo, podemos dizer que a cidade está otimista com o time, levando os planos de mudança para longe, pelo menos aparentemente.

Voltando um pouco no tempo, mais especificamente para o período antes da temporada 2011-12, o Nordsjaelland fazia campanhas estáveis na Superliga, em momento algum repetindo a campanha do 1º ano na elite, o que indicava que nãoo havia possibilidade de crescimento, mas os observadores mais cuidadosos enxergavam exatamente o contrário. Sob o comando do jovem Morten Wieghorst (no clube desde 2006), o clube conquistou duas Copas da Dinamarca de maneira seguida (2009-10 e 2010-11), garantindo vagas para competições europeias, fazendo um belo caixa, que serviu para estruturar o clube e contratar alguns reforços pontuais. Mesmo com esses crescimento, não enxergava-se a equipe brigando pelo maior título nacional. Nesse quadro, chegamos na temporada de 2011-12, a qual falaremos agora.

O comando técnico do time está nas mãos do jovem Kasper Hjulmand. No clube desde 2008, ocupando a função de auxiliar de Morten Wieghorst, só passou a comandar o time a partir de 2011, quando Wieghorst assumiu a seleção dinamarquesa sub-21. Quando coloca-se o comando do time com um treinador inexperiente, o otimismo não é dos mais altos, não que houvesse pessimismo, mas a expectativa era de que a equipe mantivesse a constante dos últimos anos. Entretanto, logo em sua temporada de estreia, Hjulmand foi campeão, comandando um time repleto de jovens, que tinha a movimentação no ataque, a segurança na defesa, e sobretudo, a versatilidade dos atletas, como principais marcas. A conquista surpreendeu a todos, pois o time apresentou uma melhora substancial se comparado à equipe 6º colocada do certame de 2011.
O destaque do time foi a defesa, que sofreu apenas 22 gols, a melhor de todo o campeonato, e que tem o goleiro Hansen, no clube desde 2003, com um breve empréstimo em 2005 (para um dos times que fazem parte da rede), como nome mais emblemático.  O ataque, com 49 gols marcados, não foi o melhor da competição, pra ser mais exato, foi o 5º mais eficiente em um campeonato com 12 equipes. Na armação, todos os jogadores atuaram mais de uma vez em cada um dos setores do campo (exceto na volância, que tem vaga cativa), ocupados por um 4-5-1, assim como o homem de referência no ataque. O time procura ir ao ataque de maneira consciente, prezando pela posse de bola. Para se ter ideia, em apenas 2 partidas o clube teve uma média de posse de bola inferior ao adversário; na derrota fora para o Midtjyland (2 x 1, 49%) e na goleada de 4 x 0 sobre o Lyngby, em Farum (47%), coincidentemente, 2 jogos seguidos. A equipe polariza o jogo no meio de campo, tanto que os artilheiros do time foram meias, Christensen (que atuou em todas as partidas da Superliga) e Meckmann (que ficou de fora em apenas 2 ocasiões), ambos com 8 gols.

O jogador que atuou mais vezes na meia cancha foi o veterano volante de contenção Stokholm. Capitão do time, ele é a principal liderança do time, e mesmo com 36 anos, ficou de fora de apenas 3 partidas dentre as 33 do campeonato nacional. Tamanha é a confiança no capitão é que ele é o cobrador oficial do time.
Grande parte dos jogadores estão no time há muito tempo, como lateral-direito (que eventualmente atua pela esquerda) Kindeltoft, no clube desde 2007, o zagueiro norte-americano Parkhurst, chegado em 2008, e os avançados (termo mais preciso para atletas que atuaram tanto no meio como no ataque) Andreas Laudrup, filho do lendário Michael Laudrup, e o atacante sueco Lawan, atuam no time desde 2009. Outro ponto é que há relativa segurança administrativa da equipe, o que explica a ida do holandês Mtiliga, que antes estava em um instável Málaga.

“Estabilidade relativa” por quê o clube está envolvido em mais uma polêmica. Para ser mais exato, toda a polêmica está (de novo) em seus diretores. A companhia que detinha a propriedade da equipe passava por uma difícil situação financeira, e o seu dono, Allan Pedersen, vendeu a equipe...para ele mesmo. Até aí, a legislação financeira dinamarquesa (que diga-se de passagem, é bem flexível) tolera, mas o problema foi o valor; a negociação foi fechada por cerca de 500 mil krones (por nossas contas, a cotação krone - euro é de aproximadamente 7, 50 krones para 1 euro), mas a justiça dinamarquesa cotou o valor do clube em 35 milhões de Krones. A pendenga está sendo investigada, e a justiça do país colocou um prazo de 4 anos pra decidir algo.

Assim sendo, o futuro da equipe não é dos mais definidos, mas ao que parece, a cidade de Farum parece ter abraçado o time, e lutará pelo futuro dele. Agora que o time está na fase de grupos da Champions League, é que a alegria é geral, e todos estão ansiosos para que o Farum Park possa ser aceito para mandar esses jogos. O mínimo que a UEFA exige para que se sediem jogos de suas competições máximas é 8,000, além de outras exigências, que vão de lugares VIP à locais para análise de doping, mas o mais provável é que os jogos serão mandados na capital, que não é tão longe assim.

Provavelmente, o Nordsjaelland não fará frente à nenhum rival do Grupo E, que contará com Shaktar Donetsk, Juventus e o atual campeão Chelsea, mas o provavelmente não entra em campo, e por quê não, a equipe possa repetir o APOEL da temporada passada? Afinal de contas, a Liga dos Campeões anda meio previsível, e um pouco de alternatividade sempre é bom.

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