domingo, 30 de dezembro de 2012

Dr. Robert Todd Locke

Certamente, esse nome é desconhecido para um grande número de pessoas, mas é bem familiar para os que acompanham as divisões de acesso do futebol paulista. Esse é o nome do estádio de um dos mais tradicionais times paulistas, o centenário Jaboticabal Atlético. Desde o dia 30/04/1911 o clube representa a cidade de mesmo nome, e joga no mesmo estádio desde 1912. O espaço carrega o nome do primeiro presidente da equipe, o canadense Robert Todd Locke, um dos moradores de Jaboticabal que tiveram a ideia de fundar um time na cidade.

Localizado na av. Marechal Deodoro, no nº 1116 do Bairro Sorocabano, o estádio serviu como palco para várias partidas ao longo desses 101 anos de vida, nem todos com atividades profissionais, é verdade, mas parar completamente, o Jaboticabal nunca parou, sempre presente em competições amadores quando não possuía recursos para se manter em um cada vez mais caro regime profissional. Ainda que tenha conquistado vários títulos, com destaque para a Série A3 de 90 e a 4ª Divisão, em duas oportunidades (89 e 96), cremos que o melhor momento de sua história foi na Série A2 56, quando por muito pouco, não atingiu o acesso para a elite do futebol paulista

Indo nessa direção, podemos dizer que o último bom momento do time foi a conquista da 4ª Divisão de 96. Não que tudo que tenha se seguido após o título tenha sido desgraças, mas o caminho para que estas ocorressem começava a ser traçado. As dividas trabalhistas começavam a se acumular, e a arrecadação estava diminuindo drasticamente, especialmente com o fim da Lei do Passe. A partir da 2ª metade dos anos 90, e especialmente no início dos anos 2000, os gastos com o futebol profissional aumentaram exponencialmente, e a visibilidade das divisões de acesso decrescia. Os clubes que não estivessem minimamente estruturados, além de estarem com dívidas ao menos contornáveis, estavam fadados a terem um futuro turbulento, e era esse o caso do Jaboticabal.

O clube passou por uma série de más gestões, fenômeno comum à maior parte dos clubes, até mesmo os tidos como grandes, que possuíam dirigentes com uma mentalidade retrógrada ou de competência no mínimo questionável, quando não as duas características juntas, eventualmente somadas à peculiaridades de cada caso. Com essa estrutura administrativa, o clube não estava apto à se adaptar às novas demandas do futebol brasileiro, e a dívida acabou foi se tornando uma bola de neve. Nesse quadro, podemos dizer que um dos golpes mais duros que o Jotão sofreu em sua história ocorreu em 2009, quando o estádio Dr. Robert Todd Locke foi à leilão, para que as dívidas trabalhistas fossem pagas. O empresário Valdecir Garbim desembolsou um valor foi de R$1,380 milhão para adquirir o imóvel, enquanto o presidente do time à época, Gustavo Borsari, afirmou que o campo valia ao menos R$7 milhões, e entrou com uma ação para suspender o leilão. Garbim em momento algum escondeu que não queria um estádio de futebol, havendo apenas 2 opções; ele demoliria o lugar ou venderia para qualquer outra pessoa, partindo da premissa de que a partir do momento que estava à venda, e ele pagou o valor estipulado, poderia-se usufruir do bem adquirido da maneira que lhe fosse mais conveniente, o que é legítimo e nem de longe condenável. Também é legítimo que os profissionais que lá passaram tenham o direito de recorrer a qualquer meio possível para receber o que lhes é devido, e vale salientar que não estamos falando de atletas milionários, mas sim de jogadores que fizeram a carreira nas divisões de acesso, que não costumam se destacar por movimentações de valores altos

Contudo, apontamos que é extremamente questionável colocar à venda um patrimônio histórico de valor (imaterial, diga-se de passagem) inestimável. Será que não era possível o tombamento do estádio? Será que não era possível recorrer a outro expediente para que essa dívida fosse paga? Partindo desse ponto, temos uma consideração à fazer, pois ainda que o clube enquanto instituição e patrimônio imaterial da cidade e de sua população seja penalizado, provavelmente as pessoas responsáveis pelas administrações que contraíram essa dívida não sofrerão nenhuma pena. Não estamos fazendo generalizações, afirmando que todos os dirigentes do clube no período não fossem aptos à assumir os cargos administrativos e esportivos, afinal sabemos que é difícil manter um departamento de futebol profissional em um cenário não lá muito amistoso.

Seja como for, a premissa do leilão foi polêmica, tão polêmica que o negócio foi parar na Justiça, o que deu uma sobrevida ao estádio, e consequente ao Jaboticabal, dada a letargia com que os assuntos legais são tratados no país. Nesse meio tempo, o Jaboticabal continuava a mandar jogos no estádio, mas não conseguia mais realizar campanhas de destaque, e a frequência dos imbróglios só crescia. Em outubro de 2011, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Jaboticabal aprovou o tombamento do estádio, mas ainda faltava a aprovação do prefeito. Depois disso, a situação teve idas e vindas, retificações e suspensões, tanto do leilão quanto do tombamento.

O Jaboticabal continuava a mandar suas partidas lá, mas não conseguiu reeditar as campanhas de outrora, até que na 2ª metade de 2012, de maneira súbita, o estádio começou a ser demolido, para que alguma outra coisa fosse construída. Nas idas e vindas do processo, a demolição do estádio foi suspensa por uma liminar,   contudo, a maior parte do estádio já foi demolida, e as perspectivas de reconstrução são ínfimas.

Voltando ao tema tombamento, esta medida deveria ser aplicada antes da venda do estádio, e de maneira gradual, com um planejamento à longo prazo, pois haviam uma série de implicações. Hoje, após a venda, essas implicações só aumentaram, pois caso a prefeitura tombasse o estádio, a dívida do clube cairia para o poder público, que teria de usar o dinheiro do contribuinte, que deveria ser destinado para serviços como saúde, educação, habitação e etc. A prefeitura afirmou possuir planos para construir um estádio municipal, com padrão FIFA e tudo o mais, mas isso é médio-longo prazo, e os problemas do clube são mais imediatos. Caso opte por participar de qualquer competição em 2013, o mais provável é que o clube tenha de mandar essas partidas em outras cidades, o que trará mais gastos. Ainda que as cidades limítrofes não sejam lá muito distantes (Bebedouro - Km 44, 9 - , Guariba - Km 27, 9 - , Taquaritinga - Km 35, 7 - , Sertãozinho - Km 40, 6 - ), jogar em outro estádio provavelmente não sairá de graça. E caso mande as partidas em outra cidade, isso acarretará uma dificuldade a mais para a torcida, o que pode causar uma série de problemas, indo para a ausência de um ambiente de "time em casa" à queda na renda, e esses dois fatores são crucias.

De fato, a situação é difícil, mas fica a torcida para que o Jaboticabal passe por tudo isso, continuando a dar alegrias para sua torcida e enriquecendo o futebol paulista.

Agora, fugindo do assunto principal (e adotando a 1ª pessoa), desejo a todos boas festas e um ótimo 2013, regado à; saúde, sucesso, prosperidade e tudo o que se tem direito.

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