terça-feira, 21 de abril de 2015

Início da Segundona 2015 (ou o Retorno do Futebol Interiorano)



Buenas. Cá estou, escrevendo na primeira pessoa, depois de quase 1 ano sem postar absolutamente nada. Houveram vários motivos para isso: faltou tempo, e passei por um período deprimente na minha vida. Seja como for, estou de volta, com ânimo renovado, para viajar e escrever, e o primeiro episódio dessa nova etapa foi o início da GENIAL Segunda Divisão Paulista. Aqui cabe um adendo: apesar do nome, o campeonato equivale à 4ª Divisão (Séries A1, A2, A3 e B, ou Segunda Divisão). A explicação pode ser óbvia para aqueles que acompanham o futebol alternativo, mas depois de tanto tempo sem escrever, vai demorar até recuperar esse público, então creio ser válido esse tipo de esclarecimento.

A partida em questão foi entre EC São Bernardo e Grêmio Mauaense, nesse derby do ABC. Pra começo de conversa, fiquei contente em saber que o Bernô - que é o ÚNICO time de São Bernardo que pode usar esse apelido - competiria, isso porquê a direção da agremiação tratava como certa a não participação no certame desse ano, dada a falta de condições financeiras para tal. Mas no final tudo se acertou, graças a uma parceira firmada entre o clube e uma empresa, o que é uma prática comum nessa divisão. A parceria é tão estreita à ponto do time treinar na cidade sede da empresa, no caso, Atibaia, muito por conta das dificuldades em se achar locais de treino adequados no ABC. Ainda que isso possa dar indícios de uma futura mudança de cidade, a diretoria garante que não tem planos de sair da região. Da parte do Mauaense, novamente há aposta no futebol amador da cidade, um dos mais fortes do ABC. Isso se dá graças à atual direção, cujo presidente ocupou por alguns anos esse mesmo cargo na Liga Mauaense de Futebol, e para esse ano ainda tem a parceria com o São Caetano, que cederá parte do time que competiu na Copinha São Paulo. Ah, isso dá espaço para outro comentário: a Segunda Divisão Paulista possuí um "modelo olímpico" de disputa, em que cada time pode ter apenas 3 atletas acima de 23 anos entre os 11 em campo. Isso dá muita velocidade às partidas, pelo menos nas que são disputadas em horários com temperaturas amenas, isso porquê é simplesmente impossível correr loucamente às 10h da manhã em algum rincão desse estado. O horário da partida em questão foi às 20h de uma sexta feira, um pré-rolê sensacional (ainda que no meu caso não seria muito útil, pois trabalharia no dia seguinte).

Saí de casa às 18h30, por pura vadiagem, e pela ideia de que não havia muito o que fazer em São Bernardo antes do jogo, e também não queria gastar muito dinheiro. Há um parque legal perto do estádio, o Cittá di Maróstica, bom pra dar uma espairecida, e com uma área bem interessante pra quem pratica atividades físicas, inclusive com pistas de skate, aparentemente boas, na opinião do leigo aqui que se limita a observar tudo, mas nesse dia estava de folga, então já tinha espairecido muito (e dias de folga são cultos ao ócio, logo, sem atividades físicas). No mais, havia me esquecido que há um Sebo bem legal perto do estádio, fato que julgo ser único aqui no estado. Nesse Sebo, do seu Matias, podem ser encontrados uma série de objetos legais, além do fato do dono ser um sujeito muito simpático. Seu sócio, se assim podemos dizer, e que por puro lapso me esqueci o nome, cuida do restante do acervo do Sebo, os livros no caso. O fato é que ambos são dois dos maiores fãs de Raul Seixas que conheço.

Bem, cheguei no Baetão às 19h55, achando que daria tempo de ver os times possando e fingir demência durante a cerimônia cívica do hino nacional, no entanto, a partida começou antes do horário marcado, fato nem um pouco usual. Iniciada a peleja, fui identificando as coisas: a princípio, os amigos (o que gerou uma foto sensacional no final da partida), depois a torcida, e por fim, a partida em si, em um processo que se durou 4 minutos, foi muito. Apesar de ser referido no aumentativo, o Baetão é uma cancha com um jeito extremamente familiar, e a atmosfera da partida colaborava para isso: foram 90 os pagantes, sendo que a maior parte eram familiares dos atletas dos dois times, que dividiram a arquibancada coberta sem nenhum problema. Do outro lado, na descoberta, estavam as torcidas dos dois clubes, que tinham 10 indivíduos somadas as duas, sendo que todos se conheciam, e juntos desses, os elementos neutros, que também se conheciam e conheciam os torcedores. Foi no mínimo engraçado ver um jogo em estádio nessas circunstâncias, assim como ver as faixas das duas torcidas no mesmo setor da arquibancada. No mais, identifiquei os times em campo, o mandante jogando de camisas e calções azuis com meiões brancos e os visitantes jogando de camisas e calções brancos com meias azuis, e assim os 4 minutos de assimilação das informações foram resumidos em um parágrafo.

Cobertas do Baetão, onde ficaram misturadas as famílias dos atletas dos dois times. À esquerda, a arquibancada em que torcedores e admiradores do futebol alternativo ficaram.

Feitas essas observações perspicazes, estava satisfeito com minhas capacidades cognitivas, quando fui comunicado que errei as cores dos times em campo, um erro dos mais burros em se tratando de futebol. Depois de algum tempo, cheguei a conclusão de que não sou tão burro (ou que os que estavam à minha volta eram tão burros quanto) pois esse engano foi geral. Isso se deu pelo fato do São Bernardo estar de meiões azuis. Ainda que a camisa do time tradicionalmente seja alvi-negra,  o Bernô jogou de azul ano passado, fato que terá explicação depois. A confusão ocorreu devido à solicitação do Sr. Juiz solicitar a troca dos meiões, pois os do Mauaense, com seu tom escuro, poderiam causar confusão com os shorts e meias negras do homem do apito. Sobre o São Bernardo jogar de azul, explica-se: em 2014 o time lançou um uniforme dessa cor, e foi senso comum que a intenção foi relembrar os anos 80, quando se fundiu com o Aliança, potência do futebol amador do período, e ficou com seu uniforme idêntico com o do Grêmio, mas cabe dizer que a lembrança foi involuntária, já que em 2014 o Bernô só jogou assim por causa de um dirigente gremista. Foi um raro caso em que uma homenagem diz respeito a dois episódios, mas só em um ela é voluntária.

Todas essas reflexões se passavam enquanto o jogo rolava, com o São Bernardo com mais posse de bola, mas sofrendo com os ataques do Grêmio, que meteu uma bola no travessão depois de uma bola alçada, por volta dos 15 min., na única jogada pela esquerda realmente efetiva do Grêmio no 1º tempo. Os mauaenses não eram pensos pra um só lado do ataque, mas a medida que a esquerda não funcionava, o time caía mais pra direita, mas vez ou outra invertia a jogada pra ver no que dava. Enquanto isso, os mandantes procuravam saber o que fazer com a bola, tentando se infiltrar na área visitante de tudo quanto é jeito, sobretudo com balões não muito efetivos. Da parte dos visitantes, houve uma leve queda no ímpeto, que gerou uma brusca queda na incisão das ações, e o primeiro tempo terminou de um jeito bem morno.

O intervalo passou rápido, graças a ótima resenha com os amigos de arquibancada, regada a futebol, alternativo e não alternativo. O segundo tempo começou em alto ritmo, com as duas equipes mais ligadas que na 1ª etapa, sobretudo o São Bernardo, que começava a finalizar com certo perigo, mas foi justamente nesse momento da partida que um pênalti foi anotado para os visitantes (a meu ver, de maneira bem mandrake), e Cauê, que por sinal sofreu a falta, converteu o penal e colocou os visitantes na frente, nesse que foi o primeiro e último ataque consistente do Mauaense no 2º tempo. A partir do gol, o São Bernardo melhorou muito, encurralando o escrete de Mauá em seu campo defensivo. Essa pressão acabou culminando na expulsão do volante Cláudio, que conforme observação da torcida, colecionou sua segunda expulsão em seus dois jogos disputados pelo clube. Um recorde. Como era de se esperar, a expulsão deu mais espaços para o Bernô, que chegou ao empate com um gol de Bill, que recebeu a bola depois de bela jogada pela direita, em um momento em que o Grêmio estava com apenas 9 em campo, já que um jogador estava recebendo atendimento na lateral.

E assim terminou uma das partidas inaugurais da Segundona 2015 - a outra foi Fernandópolis 1 x  2 Grêmio Prudente, com gol de Muller, aquele mesmo -, e se o nível se mantiver, tenho certeza de que será um campeonato sensacional. Pra encerrar, fica um registro feito pelo Fernando do Jogos Perdidos, com um quorum mais do que respeitável. Saludos.

De pé: Samuel, Leandro Oliveira, Mario Gonçalves, Colucci, Espina, Rafael Lima, Renato Rocha, Folego e Fernando Martinez;
agachados: Pedro Faian, Raul Burgo, Rodrigo Leite, Pucci, Bruno Lopes, Milton e eu.

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