quinta-feira, 2 de julho de 2015

Observações sobre Partidas Aleatórias - Army United x Port FC - Campeonato Tailandês

Acordar sozinho em um domingo de manhã é sinônimo de que se permanecerá só à manhã inteira. Poucos viventes levantam cedo nesse dia, e se levantam, é pra ficar a sós consigo mesmo. No meu caso, e no de tantos outros, há o futebol das divisões de acesso, que aqui em SP, ocorre nesse horário. Também há os campeonatos de várzea, e aqui no ABC esse horário é tradicional desde tempos imemoriais. Mas, no meu caso, eu trabalharia à tarde (todas as pessoas que trabalham aos domingos merecem uma homenagem por isso), e a preguiça falou mais alto. Ficar em casa seria o programa da vez, mas manhã de domingo sem futebol é estranha, mas só as divisões de acesso tem jogos à esse horário (ps: vi depois que haveriam jogos do Brasileirão nessa faixa), e os campeonatos estrangeiros que são televisionados pra cá estão em intertemporada. Situação difícil...mas há outros países no mundo, e é inconcebível que todos parem ao mesmo tempo. Então lá fui eu procurar uma transmissão por streaming e eis que encontro uma partida do Campeonato Tailandês: Army United x Port FC, no Thai Army Sports Stadium. Nunca vi nenhum jogo de nenhum time do sudeste asiático, e como não tinha o que fazer, dediquei quase 2 horas da minha vida à isso, e a fazer observações sobre tudo lá (pelo menos tudo à que me propus prestar atenção) e eis aí o resultado dessas observações:


- O estádio está bem ocupado, mas não cheio. É difícil tentar adivinhar a quantidade de público, pois é impossível ver os torcedores no mesmo lance de arquibancadas da equipe de transmissão.

- O que se vê, no entanto, é animador: número razoável de torcedores, fazendo muito barulho, e muitos até mesmo fantasiados...pelo menos acho que sejam fantasias...

- A presença feminina é relativamente alta, maior até que em alguns jogos que vi aqui no país. Haviam até torcedores do Army United fantasiadas de alunas de colégio militar.

- técnicos de bermuda...pode parecer pouco, mas nunca havia visto isso. Talvez seja por conta do calor senegalense que deve estar fazendo lá, e isso à noite.

- Tem gente usando cachecol na arquibancada...geralmente esticam, mostrando o nome do time, ou colocam sob o pescoço, sem amarrar ou enrolar...agora me pergunto: por quê fazer um cachecol na Tailândia?

- Há noção de tática aqui: o jogador que passa procura se projetar à frente. Pode parecer (na verdade é) algo básico, e até mesmo óbvio, mas em muitos campeonatos isso não acontece.

- Passados 15 min, deu pra perceber algumas coisas do jogo: o nível técnico não é ruim, equivale a uma boa partida entre times médios do paulista, ou até mesmo da Série B do Brasileiro. O Army tem um jogo de passes longos, por terra ou por ar, e correria, enquanto o Port prefere colocar a bola no chão. A princípio, os visitantes estão bem melhor, o que causa estranhamento, ao se ver a classificação do campeonato; o Army tem 20 pontos, enquanto o Port está com apenas 8, 1 posição acima da zona de rebaixamento.
- Fim de primeiro tempo: 0 x 0, sendo que os visitantes criaram mais chances

- Passados 15 min do 2º tempo, o jogo ficou mais aberto, e o Army United melhorou muito, procurando manter a posse de bole, mas sem deixar de apostar nos passes longos. Bem, melhorou, mas não a ponto de justicar a diferença vista na tabela, enquanto o Port teve uma queda sensível.

- O time da casa saiu na frente com um golaço de falta do número 13 (não conheço o alfabeto local, e como não há relatos ou súmulas em inglês, ele é o numero 13 e ponto).

- Depois do gol o jogo seguiu em banho maria: o Army, aparentemente, jogou menos que podia, e o Port não conseguiu fazer uma boa jogada sequer, justificando sua colocação na tabela.

- No frigir dos ovos, foi um bom jogo, e tentarei ver mais partidas do Tailandesão...

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Obrigado, Diego Costa (ou uma viagem para Capão Bonito)


Buenas. Para esse ano de Segunda Divisão Paulista, eu me prometi tentar ver mais partidas em locais distantes, nem que para isso eu tivesse de ir em menos partidas no ABC e Grande São Paulo, e foi nesse espírito que fui parar em Capão Bonito. Tenho de admitir: a iniciativa não partiu de mim, mas do casal Furlan e Tainá, e também tive a companhia dos camaradas Chicão e Gabriela. A bem de verdade, o programa envolvia tão somente um rolê pela região, com passagens por cidades como Pilar, Piedade, São Miguel Arcanjo e Ibiúna. O fato é que como estaríamos por aqueles lados, nada custava ver uma partida dessa competição sensacional, e o jogo em questão era Elosport e Barcelona de Capela, dois times que eu nunca havia visto ao vivo; o Elosport por geralmente cair em grupos longe da região metropolitana (explica-se: a Segunda Divisão do Paulista é a competição do estado com maior número de participantes, 35 ao todo. Por conta disso, há uma divisão em grupos seguindo um critério regional), e em relação ao Barcelona, este possuí inúmeras dificuldades só para entrar em campo, e toda chance de vê-lo pode ser a última. A maior dessas dificuldades, como era de se esperar, é a falta de dinheiro, mas eis que uma cria barcelonista entra em cena: Diego Costa. Na negociação envolvendo o Atlético de Madrid e o Chelsea, rendeu uma grana para o clube formador. Por conta disso, agradeço o atacante, que por seus gols, me permitiram ver o Barcelona ao vivo pela primeira vez em minha vida.

Sobre Capão Bonito, é uma cidade típica do interior, em que pude perceber que pelo que estávamos ter uma placa de fora da cidade e adjacências, eramos tidos como atração turística por quem quer que parássemos pra pedir informações, especialmente a de um senhor que deu um tapa no carro, assim como se faria com um cavalo, após nos orientar. O estádio Dr. José Sidney da Cunha fica na Av. Adhemar de Barros, que não segue um trajeto lá muito reto, o que acaba confundindo, e tal confusão fez com que chegássemos ao estádio com certo atraso. Só conseguimos entrar quando o jogo já estava na casa dos 10 min. O estádio é dos mais simpáticos que já vi na vida, com direito à um mural com uma caveira tipo àquela que o Seu Madruga desenhou na lousa (PE-LI-GRO). Haviam arquibancadas atrás dos dois gols e na lateral direita (onde fica o setor coberto, que também abriga o bar), e os degraus são tão inclinados quanto na Vila Belmiro. Do outro lado, estão as cabines de imprensa, escritório da diretoria, banco de reservas, vestiário, base do policiamento do estádio, e talvez mais alguma coisa. Finalmente sentamos, afinal, eram pouco mais de 100 viventes presentes, logo, o que não faltava era espaço, e depois de acomodados, observamos a paisagem, que é repleta do verde típico do interior paulista: plantações de milho, eucalipto e mais alguns produtos essenciais ao agronegócio. Ao observar tudo isso, os presentes logo perceberam que não éramos da cidade, e por alguns instantes também fomos atração lá, mas como a partida já estava rolando e o time da casa estava bem, as atenções logo se voltaram para o jogo.


O Elosport estava melhor, atacando sobretudo pela direita, com o lateral Juninho, que apoiava bem e defendia na base da porrada, mas eram porradinhas discretas, tanto que só foi ganhar cartão amarelo aos 16 min da segunda etapa, e por cera! Da parte do Barcelona, o time tocava bem a bola, numa tentativa de tiki-taka mais humilde, sem conseguir o objetivo desse estilo de jogo - a posse de bola - e sofrendo do mesmo mal dele - a falta de finalizações. O goleiro do time da casa pouco fez durante toda a partida, e a bem de verdade, o visitante também não, o ponto é que o Elo foi extremamente eficaz. Foi em uma jogada pela direita que o time verde conseguiu uma falta: bola alçada na área e o Diego, zagueiro, subiu mais que todo mundo, pra aos 24 min colocar o Galo do Sul em vantagem. Cabe dizer que, a dupla de zaga do Elosport, Diego e Celso, era composta de zagueiros-zagueiros da mais fina estirpe. Celso, por exemplo, usava e abusava dos bicões pra frente, e é carinhosamente chamado pela torcida  de Alemão, por ser loiro oxigenado.

Após o gol, o Barcelona conseguiu fazer algumas finalizações, ainda que sem muita qualidade, sem exigir muito da defesa dos mandantes, que por sua vez, diminuíram o ritmo, e assim a partida ficou até o final da primeira etapa. No intervalo fiz a avaliação da gastronomia do estádio, com espetinhos, pipoca (fornecida por um pipoqueiro em seu carrinho, que também tinha algodão doce) e cerveja, com álcool (temos isso nas ~~Arenas~~?). Fui na cerveja - da marca consagrada pelo Aloísio Chulapa -, em que o sujeito do bar faz questão de mostrar a latinha, colocando toda ela no copo:1 por R$ 3, 50, 3 por R$ 10, preço honestíssimo para um estádio. Aprovei a cerveja, o espetinho foi aprovado pelo camarada Chicão, e ninguém estava a fim de doce, mas no geral, a gastronomia do Dr. José Sidney da Cunha foi aprovada.

Início de 2º tempo, e o jogo continuou na mesma toada, tanto que em mais um lance pela direita, a bola foi alçada à meia altura, incrivelmente passou por todo mundo, exceto por Thiago, que deu uma espécie de peixinho sem pulo para fazer Eloporst 2 x 0 Barcelona. A partir disso, os visitantes tentaram pressionar como costumam fazer fora de casa, pois todas as vitórias conquistadas pelo Barça Paulistano ocorreram fora de seus domínios, mas ao contrário das outras ocasiões, esse abafa não foi lá muito bem sucedido, pelo menos não o bastante para conseguir ao menos o empate, mas o suficiente para alcançar um gol aos 44 min do 2º tempo, em que Wedson aproveitou rebote do goleiro, assim como Suarez no dia anterior em Berlim, e deu números finais à partida, afinal, dois Barcelonas não poderiam ganhar no mesmo final de semana...Fim de jogo, e a certeza de uma longa viagem de volta.



sábado, 16 de maio de 2015

Grêmio Mauaense x USAC (ou "Nos Tempos de Santilhana. ")


Sábado à tarde, data em que grande parte das pelejas das divisões de acesso ocorrem por todo o país. Devem ter ocorrido várias, mas optei por aquela que era mais acessível, ou menos inacessível, dependendo do ponto de vista: Grêmio Mauaense x União Suzano (aqui vai uma observação; por caprichos do destino, Suzano tem dois times chamados União Suzano, o USAC, que é o que vi hoje, e o ECUS. Geralmente, o primeiro é referido pelo nome em extenso, enquanto o segundo é pela sigla mesmo). A questão da acessibilidade ao estádio Pedro Benedetti se dá por conta de que eu moro ao lado da Mauá, mas não há uma linha inter-municipal, então tenho de ir ao centro da minha cidade, e de lá pegar um trem para Mauá City. Sempre me pareceu absurdo pegar duas conduções para um lugar tão próximo, sendo que eu uso isso pra ir pra São Bernardo, por exemplo. Seja como for, passei por cima dos meu conceitos de absurdo e fui para o estádio, que fica perto da estação, coisa de 10 ou 15 min de caminhada.

A partida teve início pontualmente às 15h, mas me atrasei um pouco, coisa de 15 min, pois tive o azar de perder um trem. Outro fator que colaborou com o atraso foi a nova entrada do estádio: antes, o acesso se dava pelos portões em frente à av. Papa João XXIII, agora, é necessário dar a volta pelo estádio, subindo uma longa ladeira, para aí sim poder ver o campo. Chegando nas bilheterias, houve um outro problema: não havia troco. Tive de comprar uma cerveja na barraquinha em frente para conseguir ter uma nota de 5 Dilmas, valor da meia entrada. Ao contrário do que ocorre em grande parte do estádio, não haviam policiais fazendo a revista, e o tiozinho que estava nas catracas liberou minha entrada de boa.

Finalmente dentro do estádio, logo encontrei o amigo Folego, junto de outros dois amigos, ambos torcedores do Grêmio, mas que ficarei devendo o nome, pois não fomos devidamente apresentados. A partida ainda estava 0 x 0, e os mandantes jogavam bem melhor, como foi em quase todos os jogos da competição. Se leram o relato que fiz sobre o jogo contra o São Bernardo, viram que durante o 1ª tempo o time de Mauá foi bem melhor, tomando o empate no 2º, quando simplesmente parou de jogar. Segundo Folego, o maior exemplo foi na derrota contra o Guarulhos, em que o time saiu na frente, mas depois que tomou o empate, tomou 3 gols em pouquíssimo tempo.

Devidamente acomodado nas dependências do estádio (que estava com muito espaço disponível) , pude ver o bom começo do Mauaense, que pressionava muito os visitantes, que por algum motivo desconhecido estavam jogando de coletes azuis. Ninguém entendeu muito bem, pois a camisa do USAC é vermelha, e o Grêmio estava de branco, então não havia motivo para isso. Mistérios da vida. Enquanto divagava, vi um pênalti claro não marcado para o time da casa. O atacante recebeu dentro da área, na direita, acompanhado somente do goleiro de um zagueiro: o atacante (que não consegui identificar quem era) deu um corte seco no defensor, que claramente o derrubou, mas o juiz achou que não foi nada. A cara de alívio da defesa do União o lance era mostra de culpa no cartório. O prejuízo pro Grêmio foi ainda maior, quando no contra-ataque originário desse lance o USAC consegui uma falta na sua esquerda - lembrando que a direita de um time corresponde à esquerda do adversário -. Bola alçada na área, saída esdrúxula do arqueiro e o defensor Renan escorou para marcar União Suzano 1 x 0, aos 43 min. A partir daí, foi possível perceber duas coisas: o emocional do Grêmio Mauaense é muito frágil, e que o União Suzano não estava de coletes, aquela era a sua camisa mesmo: vermelho nos lados e azul no meio, com os números em uma cor que era mistura de preto e vermelho, desbotado ainda por cima.
Área das árvores, onde segundo a lenda o Fantasma da Blusa Vermelha assistia os jogos.


Os minutos finais do primeiro tempo foram mornos, muito mornos, mas por sorte foram poucos minutos, e nesse espírito logo o intervalo chegou, e nele pude ouvir muita coisa boa, sobretudo a história de Santilhana. Na história, Santilhana foi um grande atacante, grande em técnica e velocidade, pois em tamanho era pequeno, o que segundo o próprio lhe dava vantagem, pois a distância do cérebro pros pés era pequena. Também segundo o próprio, era um galã sem igual no futebol de seu período, em que o futebol profissional não era tão restrito, e não raro jogadores do amador conseguiam um lugar nos profissionais. Por não ser dos atletas mais regrados do mundo, e sabendo que teria de se adequar à uma rotina, Santilhana preferiu ficar no amador, onde poderia gozar à vontade tudo quanto era esbórnia. Os tempos de jogador acabaram, mas ainda havia o desejo de viver o futebol, mas não como treinador, técnico, dirigente, nada que envolvesse a administração do jogo. Santilhana foi para a arquibancada, viver com os torcedores de diversos clubes, vendendo petiscos e aperitivos, e desde então, passou a ser conhecido como Galinha do Amendoim, figura onipresente nos estádios da Grande São Paulo. A história pode parecer absurda, mas é muito absurda para ser mentira, além do mais, tudo que tenha o "Selo Galinha de Qualidade" é bom e verdadeiro. No mais, ganhei do amigo Folego um Guia da Segunda Divisão Paulista, editado pela própria FPF. É uma pena que a Federação não comercialize esse livro, nem que fosse por reserva...

Seja como for, depois de tudo isso ainda houve uma introdução à história do Fantasma da Blusa Vermelha, que nos anos 90 e início dos 2000 sempre estava vendo os jogos na zona das árvores, a mais inacessível de todo o estádio, sempre com uma blusa vermelha de capuz, fizesse chuva ou sol. Quando ia perguntar mais detalhes, começou a segunda etapa, em um ritmo frenético, novamente com o Grêmio melhor, e logo aos 15 min., Chocolate, que havia entrado depois do intervalo, recebeu um cruzamento no bico da área. Matou a bola no peito, tirando o zagueiro, e bateu com curva no canto esquerdo do goleiro, que nada pôde fazer, e o jogo estava empatado. Chocolate entrou em catarse, tirando a camisa, vibrando e correndo feito um alucinado. A partir daí os mandantes pressionaram feito loucos, e nessa tomaram um contra-ataque, em que Paraíba recebeu lançamento, venceu o zagueiro na velocidade, cortou o goleiro e finalizou: União Suzano 2 x 1. Ainda haviam pouco mais de 20 min, para o fim da partida, e o que se viu foi um Grêmio indo com tudo, mas de maneira desorganizada, e um União que não conseguia fazer nada além de se defender. O que mais chamou a atenção foi o lateral esquerdo do Mauaense, que na verdade era um zagueiro improvisado, e que vendo a situação do time, jogou praticamente como um ponta. Via-se o esforço do rapaz, e que tão somente esse esforço gerava boas jogadas, mas que não eram o bastante, seja pela falta de técnica pro negócio (técnica que pode ser aprendida), seja pelo abatimento de seus companheiros. Nessa toada o jogo acabou com vitória dos de Suzano, que somam 5 pontos em 4 jogos. Do outro lado, o Grêmio, com apenas 1 ponto conquistado, divide a lanterna com o ECUS, com mais 14 jogos para serem disputados, ou seja, muita coisa ainda pode acontecer.

Já eram 17h, e decidi fazer algo que nunca tinha feito: ir do estádio para minha casa à pé. Basicamente era só seguir a Papa João XXIII e virar a esquerda na última bifurcação. Achei que demoraria uns 40 min, mas foi aproximadamente 1 h e 10 min. Valeu a pena, ainda que andar pelo Sertãozinho (trecho que liga Santo André e Mauá) no final da tarde não seja muito recomendável, pela ausência de calçadas e iluminação ruim. Assim sendo, é uma boa alternativa para ir pra o estádio em um horário de claridade.

Agora é ver qual será a próxima partida a ser vista in loco. Até lá.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Início da Segundona 2015 (ou o Retorno do Futebol Interiorano)



Buenas. Cá estou, escrevendo na primeira pessoa, depois de quase 1 ano sem postar absolutamente nada. Houveram vários motivos para isso: faltou tempo, e passei por um período deprimente na minha vida. Seja como for, estou de volta, com ânimo renovado, para viajar e escrever, e o primeiro episódio dessa nova etapa foi o início da GENIAL Segunda Divisão Paulista. Aqui cabe um adendo: apesar do nome, o campeonato equivale à 4ª Divisão (Séries A1, A2, A3 e B, ou Segunda Divisão). A explicação pode ser óbvia para aqueles que acompanham o futebol alternativo, mas depois de tanto tempo sem escrever, vai demorar até recuperar esse público, então creio ser válido esse tipo de esclarecimento.

A partida em questão foi entre EC São Bernardo e Grêmio Mauaense, nesse derby do ABC. Pra começo de conversa, fiquei contente em saber que o Bernô - que é o ÚNICO time de São Bernardo que pode usar esse apelido - competiria, isso porquê a direção da agremiação tratava como certa a não participação no certame desse ano, dada a falta de condições financeiras para tal. Mas no final tudo se acertou, graças a uma parceira firmada entre o clube e uma empresa, o que é uma prática comum nessa divisão. A parceria é tão estreita à ponto do time treinar na cidade sede da empresa, no caso, Atibaia, muito por conta das dificuldades em se achar locais de treino adequados no ABC. Ainda que isso possa dar indícios de uma futura mudança de cidade, a diretoria garante que não tem planos de sair da região. Da parte do Mauaense, novamente há aposta no futebol amador da cidade, um dos mais fortes do ABC. Isso se dá graças à atual direção, cujo presidente ocupou por alguns anos esse mesmo cargo na Liga Mauaense de Futebol, e para esse ano ainda tem a parceria com o São Caetano, que cederá parte do time que competiu na Copinha São Paulo. Ah, isso dá espaço para outro comentário: a Segunda Divisão Paulista possuí um "modelo olímpico" de disputa, em que cada time pode ter apenas 3 atletas acima de 23 anos entre os 11 em campo. Isso dá muita velocidade às partidas, pelo menos nas que são disputadas em horários com temperaturas amenas, isso porquê é simplesmente impossível correr loucamente às 10h da manhã em algum rincão desse estado. O horário da partida em questão foi às 20h de uma sexta feira, um pré-rolê sensacional (ainda que no meu caso não seria muito útil, pois trabalharia no dia seguinte).

Saí de casa às 18h30, por pura vadiagem, e pela ideia de que não havia muito o que fazer em São Bernardo antes do jogo, e também não queria gastar muito dinheiro. Há um parque legal perto do estádio, o Cittá di Maróstica, bom pra dar uma espairecida, e com uma área bem interessante pra quem pratica atividades físicas, inclusive com pistas de skate, aparentemente boas, na opinião do leigo aqui que se limita a observar tudo, mas nesse dia estava de folga, então já tinha espairecido muito (e dias de folga são cultos ao ócio, logo, sem atividades físicas). No mais, havia me esquecido que há um Sebo bem legal perto do estádio, fato que julgo ser único aqui no estado. Nesse Sebo, do seu Matias, podem ser encontrados uma série de objetos legais, além do fato do dono ser um sujeito muito simpático. Seu sócio, se assim podemos dizer, e que por puro lapso me esqueci o nome, cuida do restante do acervo do Sebo, os livros no caso. O fato é que ambos são dois dos maiores fãs de Raul Seixas que conheço.

Bem, cheguei no Baetão às 19h55, achando que daria tempo de ver os times possando e fingir demência durante a cerimônia cívica do hino nacional, no entanto, a partida começou antes do horário marcado, fato nem um pouco usual. Iniciada a peleja, fui identificando as coisas: a princípio, os amigos (o que gerou uma foto sensacional no final da partida), depois a torcida, e por fim, a partida em si, em um processo que se durou 4 minutos, foi muito. Apesar de ser referido no aumentativo, o Baetão é uma cancha com um jeito extremamente familiar, e a atmosfera da partida colaborava para isso: foram 90 os pagantes, sendo que a maior parte eram familiares dos atletas dos dois times, que dividiram a arquibancada coberta sem nenhum problema. Do outro lado, na descoberta, estavam as torcidas dos dois clubes, que tinham 10 indivíduos somadas as duas, sendo que todos se conheciam, e juntos desses, os elementos neutros, que também se conheciam e conheciam os torcedores. Foi no mínimo engraçado ver um jogo em estádio nessas circunstâncias, assim como ver as faixas das duas torcidas no mesmo setor da arquibancada. No mais, identifiquei os times em campo, o mandante jogando de camisas e calções azuis com meiões brancos e os visitantes jogando de camisas e calções brancos com meias azuis, e assim os 4 minutos de assimilação das informações foram resumidos em um parágrafo.

Cobertas do Baetão, onde ficaram misturadas as famílias dos atletas dos dois times. À esquerda, a arquibancada em que torcedores e admiradores do futebol alternativo ficaram.

Feitas essas observações perspicazes, estava satisfeito com minhas capacidades cognitivas, quando fui comunicado que errei as cores dos times em campo, um erro dos mais burros em se tratando de futebol. Depois de algum tempo, cheguei a conclusão de que não sou tão burro (ou que os que estavam à minha volta eram tão burros quanto) pois esse engano foi geral. Isso se deu pelo fato do São Bernardo estar de meiões azuis. Ainda que a camisa do time tradicionalmente seja alvi-negra,  o Bernô jogou de azul ano passado, fato que terá explicação depois. A confusão ocorreu devido à solicitação do Sr. Juiz solicitar a troca dos meiões, pois os do Mauaense, com seu tom escuro, poderiam causar confusão com os shorts e meias negras do homem do apito. Sobre o São Bernardo jogar de azul, explica-se: em 2014 o time lançou um uniforme dessa cor, e foi senso comum que a intenção foi relembrar os anos 80, quando se fundiu com o Aliança, potência do futebol amador do período, e ficou com seu uniforme idêntico com o do Grêmio, mas cabe dizer que a lembrança foi involuntária, já que em 2014 o Bernô só jogou assim por causa de um dirigente gremista. Foi um raro caso em que uma homenagem diz respeito a dois episódios, mas só em um ela é voluntária.

Todas essas reflexões se passavam enquanto o jogo rolava, com o São Bernardo com mais posse de bola, mas sofrendo com os ataques do Grêmio, que meteu uma bola no travessão depois de uma bola alçada, por volta dos 15 min., na única jogada pela esquerda realmente efetiva do Grêmio no 1º tempo. Os mauaenses não eram pensos pra um só lado do ataque, mas a medida que a esquerda não funcionava, o time caía mais pra direita, mas vez ou outra invertia a jogada pra ver no que dava. Enquanto isso, os mandantes procuravam saber o que fazer com a bola, tentando se infiltrar na área visitante de tudo quanto é jeito, sobretudo com balões não muito efetivos. Da parte dos visitantes, houve uma leve queda no ímpeto, que gerou uma brusca queda na incisão das ações, e o primeiro tempo terminou de um jeito bem morno.

O intervalo passou rápido, graças a ótima resenha com os amigos de arquibancada, regada a futebol, alternativo e não alternativo. O segundo tempo começou em alto ritmo, com as duas equipes mais ligadas que na 1ª etapa, sobretudo o São Bernardo, que começava a finalizar com certo perigo, mas foi justamente nesse momento da partida que um pênalti foi anotado para os visitantes (a meu ver, de maneira bem mandrake), e Cauê, que por sinal sofreu a falta, converteu o penal e colocou os visitantes na frente, nesse que foi o primeiro e último ataque consistente do Mauaense no 2º tempo. A partir do gol, o São Bernardo melhorou muito, encurralando o escrete de Mauá em seu campo defensivo. Essa pressão acabou culminando na expulsão do volante Cláudio, que conforme observação da torcida, colecionou sua segunda expulsão em seus dois jogos disputados pelo clube. Um recorde. Como era de se esperar, a expulsão deu mais espaços para o Bernô, que chegou ao empate com um gol de Bill, que recebeu a bola depois de bela jogada pela direita, em um momento em que o Grêmio estava com apenas 9 em campo, já que um jogador estava recebendo atendimento na lateral.

E assim terminou uma das partidas inaugurais da Segundona 2015 - a outra foi Fernandópolis 1 x  2 Grêmio Prudente, com gol de Muller, aquele mesmo -, e se o nível se mantiver, tenho certeza de que será um campeonato sensacional. Pra encerrar, fica um registro feito pelo Fernando do Jogos Perdidos, com um quorum mais do que respeitável. Saludos.

De pé: Samuel, Leandro Oliveira, Mario Gonçalves, Colucci, Espina, Rafael Lima, Renato Rocha, Folego e Fernando Martinez;
agachados: Pedro Faian, Raul Burgo, Rodrigo Leite, Pucci, Bruno Lopes, Milton e eu.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Satisfações

Antes de tudo, peço desculpas. Desde novembro que não há novidades por aqui, ou sequer uma nota informando o por quê disso estar parado. Bem, há uma série de fatores. O primeiro é que esse espaço não é meu ganha pão. Sempre me recusei a colocar qualquer tipo de publicidade aqui, pois quando isso virasse um serviço acho que não daria certo. Admito que possa estar enganado a esse respeito, mas seguirei sem publicidade. Por conta da necessidade de dinheiro, tive de ir trabalhar, e arrumei um emprego que não me dava disponibilidade de tempo, e me impedia de ir em estádios. Não acho que seria possível escrever sobre futebol sem ir ver jogos ao vivo, sobretudo da Segunda Divisão do Paulista. E há também motivos pessoais de outra ordem.

Sei que perdi muitos leitores, a maior parte deles. Pretendo voltar a escrever com mais assiduidade, mas não prometo nada. Das últimas vezes que tentei fazer isso, não consegui cumprir. Além do mais, fui convidado a colaborar no site Doentes por Futebol, o qual eu recomendo. Para os que se interessam por coisas mais mainstream, há bastante conteúdo de qualidade lá. Da minha parte, as temáticas que trabalho lá são semelhantes ao que se acostumaram a ver aqui. Em relação a este espaço, vou focar no futebol do interior de SP. Voltando a frequentar partidas, terei contato com de fato com a realidade do futebol interiorano.

Não escrevi isso aqui querendo algum tipo de apoio, ou pedidos para continuar com isso. Só queria dar uma satisfação para todos os que visitam esse blog. Agradeço a todos pela atenção, e veremos o que será do futuro.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Epílogo (atrasado) da B do Paulista, edição 2013

A Segunda Divisão acabou faz um tempo já, e cá estou, com certo atraso, falando disso. A Matonense reverteu um resultado que parecia irreversível. Quando o Água Santa sapecou o clube de Matão por 5 x 2, muitos (eu inclusive) acreditavam que o título ficaria no "D" do ABC (que oficialmente é conhecido como ABCD, e se formos generosos, aí se incluí o MRR - Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Mas havia um fator que não podia ser ignorado, no caso, o técnico da Matonense, o ilustre Luís Carlos Ferreira, exímio conhecedor das divisões de acesso e inventor de mandingas. Seja lá o que Ferreira tenha feito com os jogadores, deu certo; os 4 x 0 aplicados no Água Santa foram surpreendentes. Não lembro de nenhum jogo em que a equipe de Diadema tivesse tomado 3 gols ou mais, ainda mais sofrer com bolas alçadas, que originaram 3 dos gols (Alamir - 30'1T e 18'2T, Guilherme - 14'2T) da SEMA, que só pra contrariar, marcou o último num contra-ataque (com João Gabriel, aos 42'2T), num momento em que o Água Santa atacava desembestadamente.

Também é válido destacar a torcida, ou melhor, "as" torcidas. Durante o campeonato inteiro, Matonense, e sobretudo, Água Santa, estavam no topo no que diz respeito à média de público. Por isso, não dava para esperar algo diferente na final, onde o estádio Hudson Buck Ferreira recebeu exatos 6, 197 mil pagantes, mas acredito que dê para colocar aproximadamente 7 mil, se considerarmos os não pagantes.

Com tudo isso, é possível dizer que tivemos uma boa Bzinha. Melhor dizendo, é raro poder afirmar que tivemos uma Bzinha ruim. Sempre dá pra tirar algo de bom dela. Para o ano que vem, teremos (ou espera-se) a companhia dos rebaixados da A3, São Vicente (que fez um bate volta), Barretos (que ficou 2 anos na A3) e daquele que podemos dizer que é o mais novo integrante daquele grupo de times foram do céu ao inferno em pouquíssimo tempo; o União São João de Araras. Acho que todos nós sentiremos um estranhamento quando virmos o União na Série B do Paulista em 2014, especialmente se lembrarmos que há 20 anos o clube disputava a 1ª Divisão do Brasileiro. O outro rebaixado, o Palmeiras B, foi dissolvido pelo Palmeiras "A" (até - tentei - escrever algo decente sobre o último jogo do Palmeiras B, e pode ser visto aqui). Para a A3 2014, além dos dois finalistas da B 2013, veremos Tupã (que finalmente saiu da B) e Cotia (que surpreendentemente saiu da B).

Há muito ainda que pode ser citado, esmiuçado e analisado, mas fica pra uma próxima. Até lá.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Jaboticabal Atlético - Um possível recomeço?

A Segunda Divisão está em sua reta final, e estamos aguardando a grande final, que envolverá os dois times de melhor campanha na competição; Matonense e Água Santa, que subiram junto de Tupã e Cotia. Ou seja, mais duas semanas de Segundona, e depois, atenções o brioso Sub-20 da categoria, além é claro, para os clubes que participarão (ou não) da próxima edição do certame. Tradicionalmente, a Segunda Divisão começa em meados de abril/maio, mas como ano que vem teremos Copa, não sabemos ao certo o que haverá. Colocando em miúdos, ainda há muito o que se olhar.

Indo nessa direção, fica difícil ignorar o Jaboticabal Atlético. Há um artigo aqui, feito no final do ano passado, que fala da demolição e tombamento do estádio do clube, o Dr. Robert Todd Locke. Resumindo a situação, o estádio foi a leilão, para que o clube arrecadasse verba para que pudesse pagar suas dívidas. Contudo, o processo do leilão não foi dos mais tranquilos, passando por idas e vindas, e até mesmo com um tombamento do estádio. Enquanto a situação permanecia indefinida, o Jaboticabal mandou seus jogos lá em 2012, e especulava-se que a equipe fizesse o mesmo em 2013. Contudo, o estádio foi demolido (especula-se que sob mando de Valdecir Garbim, que adquiriu o imóvel no leilão), o que inviabilizou a participação do Jotão em qualquer competição (já que mandar partidas nas cidades vizinhas fosse algo fora de cogitação para os padrões financeiros do clube). A vara civil da cidade emitiu uma liminar que impede o progresso da demolição do estádio, por julgar que o processo ainda não foi concluído. Enquanto isso, Garbim afirma que pode dispor do terreno como bem quiser, pois o comprou.

A meu ver, esse é o ponto capital; discute-se a demolição, não a posse. Quando o imóvel foi comprado, ele não ainda não tinha sido tombado. Não creio que alguém sem nenhum tipo de envolvimento algum com o clube compraria uma área do tipo  se houvesse um impedimento legal para o usufruto total do bem adquirido, incluindo a possibilidade de reformulação integral do espaço. Da parte do atual proprietário, há de se convir que foi muita imprudência ter demolido o estádio em meio à uma situação jurídica ainda não definida.

E no meio disso tudo, discute-se a possibilidade de reconstrução. Mas em meio a essa discussão, deve-se perguntar; quem vai pagar por isso? Em tese, a responsabilidade, seria do atual proprietário, que ignorou uma disposição legal. Contudo, creio que pode-se alegar que dispositivo que impedia modificações no local (o tombamento) não existia quando o imóvel foi adquirido (não sou advogado, não conheço muita coisa de leis, então, desculpem uma eventual pixotada. Caso algum jurista, ou quem quer que se interesse pelo assunto, queira se pronunciar, sinta-se a vontade). Do outro lado, caso o poder público mantenha sua posição, defendendo a reconstrução e o tombamento do estádio, acredito que deva haver algum tipo de ressarcimento ao lado prejudicado, se assim podemos dizer, e o mais provável é que esse dinheiro virá mesmo do município. Basicamente, a situação longe de ser resolvida.

Ainda assim, uma, uma nova diretoria foi eleita agora em outubro, afirmando que já estão fazendo contatos com possíveis patrocinadores e empresários do ramo, buscando angariar fundos para que o time retorne ao futebol profissional, mas só em 2015 (sobre as categorias de base, não há informações se haverão esforços para que sejam formadas ainda em 2014). Tudo muito legal, mas a pergunta que não quer calar é; onde o time vai jogar? Ninguém tocou nesse assunto ainda. Como já foi dito, o clube não disputou nada esse ano por conta disso, e por não crer ser viável mandar partidas nas cidades vizinhas. Outra opção seria a construção de um outro estádio, mas até o momento, nada foi dito sobre isso. A bem de verdade, isso só é uma especulação de minha parte, e olhando friamente para essa ideia, logo se vê que uma possibilidade remota, mas ainda assim, é uma possibilidade. Mas vai saber...

Nisso tudo, fico com uma sensação estranha ao escrever algo que se limite a um "só nos resta esperar". De fato, vai demorar até que algo conclusivo aconteça nessa história.