Inaugurando mais uma sessão nova no blog, para falar daquilo que é imponderável no futebol. Existem clubes grandes, que constantemente são colocados como favoritos na disputa de um campeonato. Tais clubes são grandes por uma série de fatores, e nenhum clube se torna grande da noite pro dia, são anos no topo, e quando por algum motivo saem de lá, continuarão a ter uma legião de torcedores, voltando, ou não, ao topo. E existem os clubes mais modestos, os que tiveram um começo menor, sem ambição de representar uma nação, mas uma região, cidade, ou mesmo um bairro. Geralmente, contam com um orçamento bem menor, e não possuem uma legiao de torcedores, e seus torcedores se identificam de tal maneira com esses clubes simplesmente por isso, por serem de sua região, por viverem o que vivem, sua relação com o clube é mais próxima. Não que a relação dos torcedores dos gigantes do futebol não seja próxima, mas o fator geografia pesa.
Por toda sua história e tradição, os torcedores dos clubes grandes estão acostumados a grandes conquistas, e não cobram menos de seus clubes. Os adeptos dos clubes mais modestos também buscam vitórias, afinal se não fosse por isso, não torceriam, mas estes possuem expectatuvas menores, pois sabem das limitações materiais de suas equipes. Mas quando a vitória vem, ela é eternizada. Não precisa necessariamente ser um título, pode ser apenas um jogo, mas que ficará eternizado na memória desse torcedor. Pretendemos trabalhar em cima disso, abordando algumas dessas conquistas.
Decidimos começar pelo Bangu, que conquistou o Campeonato Carioca de 33. Por quê logo esse como primeiro? Não possuímos nenhum critério, e foi o primeiro que nos veio à cabeça. Vamos ao contexto histórico do título; 1933 era o primeiro ano de futebol profissional no Brasil, e os grandes clubes cariocas começavam a derrubar as barreiras que impunham até alguns anos antes, barreiras que impediam que atletas vindos de famílias pobres, e sobretudo, negros, jogassem. Os clubes grandes preferiam jogadores brancos, vindos se não de famílias da elite, ao menos da classe média. A própria Federação Carioca impedia que trabalhadores de certos setores jogassem no Campeonato Carioca. Sobre o Bangu, era uma equipe vinculada a Companhia Progresso Industrial do Brasil, e seus operários jogavam no clube. Só os bons de bola, diga-se. E se era o funcionário era bom, era escalado para um serviço suave, de pouco ou nenhum desgaste, e ainda tinha permissão para sair mais cedo em certos dias para treinar. O clube escalava atletas negros, mas não deixava de salientar, nas entrelinhas, que se fossem brancos, seria melhor. Mas nesse regime, o Bangu nunca tinha vencido nenhum campeonato. Ainda assim, a equipe do subúrbio contava com apoio massivo da população, que via no clube um contra ponto aos clubes da parte de baixo da cidade, aquela colada à praia, fortemente ligados à elite carioca. Com o profissionalismo, por quê venceria? Era o que todos os clubes grandes do Rio pensavam, por isso, foram atrás de grandes contratações em outros estados, procurando, se possível, atletas brancos qualificados, negro, só em último caso. Nisso, deixaram o Bangu em paz, sem assediar seus jogadores, esquecendo-se do verdadeiro celeiro que o clube da Zona Oeste era.
Em 1933, todos no clube estavam decididos a conquistar o título, e tomaram medidas até então inovadoras. Os jogadores fazim um treino físico que consistia basicamente de correr pela localidade. Pode não parecer grande coisa, mas naquela época só se fazia um treino físico leve, ao ponto da corrida do Bangu parecer algo de outro mundo. O São Cristovão já havia feito algo parecido em 1927, quando conquistou o título, fazendo seus atletas correndo na praia, na beira do mar, para que as chuteiras se enchessem de areia molhada e ficassem mais pesadas. Mas o treino do Bangu era até mais intenso do que esse, com os atletas, correndo pelo menos 9 km, pela manhã, sem contar os outros treinos físicos, abastecidos na hora do almoço com pratos homéricos de feijoada, com o técnico Luís Vinhaes encabeçando tudo isso. O clube inovou também no estilo da concentração. Outros clubes já haviam construido dependências para seus atletas, mas nenhum tinha colocado homens armados para protegê-la, ou para impedir que algum jogador desse uma escapada. O regime só não era de campo fechado pois havia os dias para visita, onde todos se confraternizavam no quintal. Aliás, a casa onde estavam os atletas era um casarão antigo construído por operários ingleses, que há muito estava abandonado.
Com essas medidas, o time estava preparado para enfrentar os rivais. Com apoio de sua torcida, o Bangu fez uma campanha irretocável; em 10 jogos, o clube alcançou 7 vitórias, 2 empates, e somente 1 derrota, marcando 35 gols e levando apenas 10, com direito à uma goleada na final, 4 x 0 no Fluminense, o clube mais aristocrático de então. Ironia do destino, Vinhaes saiu brigado do Fluminense, devido ao excesso de finesse do escrete tricolor, coisa inexistente em Bangu. A festa foi tanta que Bangu parou; uma noite inteira de folia, um verdadeiro carnaval fora de época, em pleno domingo. Na segunda seguinte, o que mais se via eram pais e mães, namoradas e esposas indo para a delegacia procurarem filhos ou conjugês, com grande demora em ser atendidas, não só pela alta demanda, mas o efetivo policial também sofreu baixas devido a farra. Na segunda, mais de 500 funcionários da Progresso não foram ao serviço. O dono da fábrica, Francisco Guimarães, também presidente do Bangu, decidiu abonar a falta dos foliões, e pagar o dia inteiro não só daqueles que foram trabalhar (e que foram dispensados antes da dar meio-período) mas dos que faltaram também. Porém, os funcionários, de forma unanime, decidiram recusar isso, arcando com a falta ou com o meio dia de trabalho, tudo pelo Bangu (e isso está registrado em ata).
Esse fato pode ter servido de inspiração para Lamartine Babo (que em 49 compôs os hinos extra-oficiais-que-se-tornaram-oficiais de todos os clubes da 1ª Divisão daquele ano);
Quando o Bangu vence, na certa há feriado
Comércio fechado
A torcida reunida parece a do Fla-Flu
Bangu, Bangu, Bangu...
Em 1933, todos no clube estavam decididos a conquistar o título, e tomaram medidas até então inovadoras. Os jogadores fazim um treino físico que consistia basicamente de correr pela localidade. Pode não parecer grande coisa, mas naquela época só se fazia um treino físico leve, ao ponto da corrida do Bangu parecer algo de outro mundo. O São Cristovão já havia feito algo parecido em 1927, quando conquistou o título, fazendo seus atletas correndo na praia, na beira do mar, para que as chuteiras se enchessem de areia molhada e ficassem mais pesadas. Mas o treino do Bangu era até mais intenso do que esse, com os atletas, correndo pelo menos 9 km, pela manhã, sem contar os outros treinos físicos, abastecidos na hora do almoço com pratos homéricos de feijoada, com o técnico Luís Vinhaes encabeçando tudo isso. O clube inovou também no estilo da concentração. Outros clubes já haviam construido dependências para seus atletas, mas nenhum tinha colocado homens armados para protegê-la, ou para impedir que algum jogador desse uma escapada. O regime só não era de campo fechado pois havia os dias para visita, onde todos se confraternizavam no quintal. Aliás, a casa onde estavam os atletas era um casarão antigo construído por operários ingleses, que há muito estava abandonado.
Com essas medidas, o time estava preparado para enfrentar os rivais. Com apoio de sua torcida, o Bangu fez uma campanha irretocável; em 10 jogos, o clube alcançou 7 vitórias, 2 empates, e somente 1 derrota, marcando 35 gols e levando apenas 10, com direito à uma goleada na final, 4 x 0 no Fluminense, o clube mais aristocrático de então. Ironia do destino, Vinhaes saiu brigado do Fluminense, devido ao excesso de finesse do escrete tricolor, coisa inexistente em Bangu. A festa foi tanta que Bangu parou; uma noite inteira de folia, um verdadeiro carnaval fora de época, em pleno domingo. Na segunda seguinte, o que mais se via eram pais e mães, namoradas e esposas indo para a delegacia procurarem filhos ou conjugês, com grande demora em ser atendidas, não só pela alta demanda, mas o efetivo policial também sofreu baixas devido a farra. Na segunda, mais de 500 funcionários da Progresso não foram ao serviço. O dono da fábrica, Francisco Guimarães, também presidente do Bangu, decidiu abonar a falta dos foliões, e pagar o dia inteiro não só daqueles que foram trabalhar (e que foram dispensados antes da dar meio-período) mas dos que faltaram também. Porém, os funcionários, de forma unanime, decidiram recusar isso, arcando com a falta ou com o meio dia de trabalho, tudo pelo Bangu (e isso está registrado em ata).
Esse fato pode ter servido de inspiração para Lamartine Babo (que em 49 compôs os hinos extra-oficiais-que-se-tornaram-oficiais de todos os clubes da 1ª Divisão daquele ano);
Quando o Bangu vence, na certa há feriado
Comércio fechado
A torcida reunida parece a do Fla-Flu
Bangu, Bangu, Bangu...