No post anterior, demos
início ao nosso projeto anual de abordar a maior competição do Brasil, a
Segunda Divisão Paulista (que equivale ao 4º nível). Esse ano, ela contou com
um pouco menos de equipes que nas edições passadas (mais precisamente, 42, e em
anos anteriores, víamos mais de 45), e aqueles retornos, licenciamentos e
estreias de praxe. Já falamos de uma série de notícias (nessa altura do
campeonato, fica difícil separar o que é notícia e o que é boato) sobre clube
que podem ingressar ou retornar ao profissionalismo, mas podemos dizer que em
relação aos participantes de 2013, os mais certos são os oriundos da A3, no
caso, Taboão da Serra, Osvaldo Cruz, Inter de Bebedouro e XV de Jaú.
A competição costuma começar
em meados de maio, e até lá é provável que teremos tempo de abordar o 2012 de
cada um desses clubes que foram rebaixados, e que esperam que sua estadia na B
dure apenas 1 ano. Para começar, abordaremos a mais tradicional dessas 4
agremiações; o Esporte Clube XV de Novembro;
Fundação; 15/11/1924
Cidade; Jaú/para os puristas, Jahu (131,000 habitantes, à 296 km da capital)
Estádio; Zezinho Magalhães
(capacidade para 12,000 torcedores)
Títulos; Campeão do Interior
(51), Série A2 (51 e 76), Sub-20 (2005), com destaque para as 26 participações
na elite do Paulista, ininterruptas de 77 à 93.
O aniversário do XV está
chegando, mas tendo em vista os últimos anos, evidentemente não há muito para
se comemorar, afinal, terá de lutar, e muito, para sair do último escalão do
futebol paulista, lugar que não está lá muito habituado a visitar. Procuraremos
abordar alguns elementos que levaram à essa queda do Galo da Comarca.
É sabido que o XV não vive
uma situação financeira das mais agradáveis há um tempinho, e 2012 apenas
escancarou isso. O clube possui uma grande variedade de dívidas, de impostas a
questões trabalhistas, adquiridas com os anos. De 90 pra cá, é fácil dizer que
o ponto mais alto do XV foi a participação na elite do Paulista, em 96, com
destaque para o acesso na A3 em 2006 e o já referido título do sub-20. Nesse
período, o clube ficou a maior parte do tempo na A3 (98 à 2006 e 2008 até
2012), hora brigando para se manter, hora participando sem muito destaque, e
tendo uns eventuais brilhos, sendo o acesso o maior deles.
O futebol nas divisões de
acesso é raramente lucrativo, quando muito é autossustentável, mas é evidente
que o conceito sustentabilidade passou longe das imediações do Zezinho
Magalhães. Politicamente, há uns anos o clube conta com apenas uma chapa se
candidatando às eleições, chapa essa encabeçada pelo empresário José Construtor,
que assumiu o clube em 2008. A principal bandeira da atual diretoria era
colocar as finanças do XV em dia, o que é algo louvável. Foi feito todo um
trabalho, rastreando toda e qualquer dívida que o clube possuísse, e procurando
propor negociações, para que o valor das dívidas pudessem ser diminuídos, ou
pelo menos que as maneiras para os pagamentos fossem mais flexíveis (leia-se,
dividir o montante em suaves prestações).
A diretoria do clube sempre
afirmou que estava conseguindo obter sucesso nesse objetivo, mas nunca escondeu
que dinheiro faltava. O 2012 da equipe pode muito bem colocar em xeque a
qualidade dessa gestão, mas nós não entraremos nesse mérito, por cremos que na
imensa maioria dos casos, descensos são consequências de um longo período de
presepadas.
Dito
isso, será possível abordar a campanha na A3 desse ano. Tendo em vista as
participações anteriores, havia uma expectativa em cima de uma boa campanha,
como a do ano anterior, em que o time foi para a 2ª fase, onde de fato não foi
bem, mas não foi algo de todo ruim. Para 2012, a folha salarial, segundo a
diretoria, girava em torno de R$70 mensais, e alguns jogadores rodados foram
contratados, com destaque para o atacante Finazzi, com seus quase 40 anos.
Entretanto,
a equipe não venceu seus 9 primeiros jogos, e o sinal amarelo já acendia em
Jahu. A partir disso, o clube apresentou uma melhora, e em dado momento,
Construtor afirmou que a equipe brigaria pela classificação para a 2ª fase,
declaração motivada por uma série de 3 vitórias consecutivas, sendo que 2 foram
fora de casa (Rio Branco 0 x 1, Osvaldo Cruz 0 x 3, e o XV venceu o Marília em
Jaú por 1 x 0), mas a boa série não durou muito, e o sonho da classificação ia
se transformando em um pesadelo. Que houve luta, isso houve, mas o clube não
resistiu. O rebaixamento só foi consumado na última rodada; o
clube precisava torcer contra o Independente de Limeira, o Flamengo de
Guarulhos e a Inter de Bebedouro, mas pra equilibrar as coisas, o XV pegaria em
casa o já rebaixado Taboão da Serra. O Galo estava melhor no jogo, tanto que
virou o 1º tempo em 2 x 0, e seus rivais diretos colaboravam.
É certo que os jogadores ficaram cientes do quadro geral nos vestiários,
o que pode explicar a morosidade com que o time entrou em campo, em que sofreu
um gol aos 15 minutos, em jogada que o meia do CATS, Nathan, dominou e chutou
como quis. Até aí, vá lá, pois o clube ainda vencia e ainda permaneceria na A3,
enquanto o Flamengo cairia, mas a tensão passou a tomar conta do Zézinho
Magalhães, o que pode explicar a expulsão do volante Eduardo, aos 26. Ainda que
houvessem raios de otimismo, eles estavam começando a se apagar, dando espaço
às sombras do receio, do descrédito, e da desesperança. Ainda que os resultados
estivessem favoráveis (o Flamengo perdia em casa para o Guaçuano por 1 x 0, e a
Inter de Bebedouro apanhava de 4 x 0 de sua xará de Limeira no Limeirão), ainda
que o adversário fosse um Taboão da Serra longe de seus melhores dias (que até
então tinha somado apenas 13 pontos em 19 rodadas), não foram poucos que
pensaram que o rebaixamento, algo provável na competição, mas improvável
naquele dia, pudesse se concretizar. O jogo ia avançando nessa toada, e
passaram-se 10, 20, 30 minutos, e chegados os 45 do segundo, o juiz deu uns 3
minutos de acréscimo, o que era de se esperar em qualquer partida atual. Os que
temiam se juntaram aos que confiantes, mas foi só por alguns instantes; em uma
bola cruzada, despretensiosamente (se o CATS tinha alguma pretensão nesse jogo,
era apenas jogar bola), o atacante Nandinho marcou de cabeça, no meio da zaga
aure-verde, que ficou parada, olhando o esférico. No último minuto. De fato, em
toda a história do futebol, é difícil imaginar um episódio tão rico em
requintes de crueldade para um torcedor como esse. Se analisarmos
os números em si, o clube não foi de uma desgraça total; sofreu tantos gols quanto Juventus, Marília (24) e pouco mais que o vice-líder,
o Grêmio Osasco (20), mas marcar 17 gols em 19 jogos é demais (ou pouco, se
formos olhar friamente).
Nenhum torcedor acreditava que o clube tinha sido rebaixado, e faria
companhia a tantos outros que já estiveram no patamar mais alto do futebol
estadual e hoje lutam para sobreviver, casos de Matonense, Bandeirante de
Birigui e Taquaritinga, só pra ficarmos em 3. A situação que já era crítica na
A3, tem tudo para piorar em 2013. Um
reflexo que já pôde ser sentido em 2012 é a desistência da Copa Paulista, o
torneio organizado pela FPF para manter em atividade no 2º semestre os clubes que
não disputam nenhuma competição nacional. Com essa desistência, restou ao XV o
estadual sub-20, em que vai bem, a despeito das duras condições a
que está submetido; trabalha com pouquíssimos recursos. O técnico Ciro Rios é
voluntário, acumulando várias funções além da de treinador, de roupeiro à
fisioterapeuta, e até sua esposa está ajudando, cuidando da alimentação dos
garotos, sem contar que outros ex-jogadores do time estão colaborando, seja com
algum serviço ou com doações de bens de primeira necessidade, como alimentos e
produtos de limpeza.
Esse
é o cenário atual, mas ainda há muito o que se definir. No próximo dia 15, a
diretoria do clube irá se reunir para novas eleições, e o atual presidente,
José Construtor, já afirmou que não disputará o pleito. Pouco após o final da
A3, membros da diretoria colocaram a possibilidade de licenciamento como algo
bem palpável. Hoje, a situação é um pouco melhor, e apesar de todos estarem
trabalhando para a disputa da B 2013, o pior dos cenários não é algo
completamente distante. A única certeza é que caso o XV participe, o time será
composto em sua maior parte por atletas vindos da base do clube, o que pode
trazer uma série de benefícios; elenco barato, jogadores identificados com a
cidade, maior ganho em eventuais negociações, etc.
Isso
será o suficiente para encarar a Segunda Divisão Paulista de 2013? Não podemos
dizer, pois essa é uma das competições mais difíceis e imprevisíveis do país. Feita
essa análise, só nos resta esperar, esperar até o dia 15/11, para que possamos
ter alguma ideia de como será o futuro do XV de Jaú.
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