Há um tempo atrás, o portal lusitano Futebol Magazine publicou uma reportagem afirmando de maneira categórica que a maior parte dos 1000 gols que Pelé fez foram em jogos amistosos, ou de torneios inferiores. Antes de continuar, logo digo; não procuro defender a imagem do dito Rei do Futebol, nem dar uma de ufanista. Pelé foi um grande jogador e ponto, não me interessa se ele é considerado ou não o melhor da história, nem defender ou questionar qualquer outra marca que ele possa ter atingido. Para dizer que um é melhor que outro, é necessário comparação, e isso é problemático, sem falar que é um porre.
Isso dito, vamos às considerações. No estudo, os membros do FM afirmam, não sem razão, que a maior parte dos gols de Pelé foram em campeonatos estaduais, mais especificamente, o Paulista. Como é sabido, os Estaduais são uma exclusividade do Brasil. Assim sendo, partiram do princípio de que os aletas europeus estariam em desvantagem, já que um campeonato regional não pode ser considerado como nacional, além de possuir um nível mais baixo. Além do mais, a partir do momento em que a Taça de Prata e o Roberto Gomes Pedrosa foram efetivados como edições do Campeonato Brasileiro, os europeus passaram a contar os gols de Pelé nesses torneios, deixando os feitos no Paulista em 2º plano, ou simplesmente como "não oficiais".
Tendo isso em vista, afirmo que há um desconhecimento geral sobre a organização do futebol brasileiro, e não culpo os europeus disso; eles não tem nenhuma obrigação de conhecer isso aqui, assim como eu ignoro como funcionou, funciona e pode funcionar as divisões inferiores do campeonato português. Contudo, cabe salientar que caso eu vá publicar algo sobre qualquer campeonato de qualquer rincão do mundo, além de seu funcionamento, devo entender seu significado subjetivo, além do contexto do país no período.
Na época de Pelé, os Estaduais possuíam uma imensa importância, além de possuírem um nível técnico maior do que se supõe. Outro ponto é que ao contarem os dois campeonatos nacionais de então, cabe dizer que eles eram bem mais curtos que os campeonatos europeus do período. Vamos aos números.
Na Taça Brasil, times do eixo Rio - São Paulo poderiam ser campeões com apenas 4 jogos disputados. Em contrapartida, os clubes das demais regiões do país, como por exemplo o Bahia, que venceu a primeira edição do torneio, em 59, disputou 10 partidas, bem mais que o campeão de 64, o Santos, e bem menos que qualquer campeão da Bundesliga no período. No Roberto Gomes Pedrosa, o campeão de 67 (Palmeiras) jogou 20 vezes, e até 70, última edição do Robertão, os campeões jogaram 19 partidas. O torneio Rio - São Paulo também foi usado como efeito de comparação. Os regulamentos da época também não primavam pela uniformidade, mas era certo que um time poderia ser campeão com menos de 15 partidas.
O estudo citou o atacante alemão Gerd Müller, então usemos a Bundesliga, campeonato instituído em 63-64, justamente o ano que Müller começou no profissionalismo (no 1861 Nördligen, que militava nas divisões inferiores do país). A Bundesliga sempre foi um torneio de pontos corridos de turno e returno, com 30 rodadas nos dois primeiros anos, expandindo para 34 rodadas, padrão que é usado até hoje. Além disso, havia a Copa da Alemanha, coisa que no Brasil só passou a ocorrer em 89.
No caso brasileiro, se jogava menos nas competições nacionais do que na maioria dos países da Europa. Àquela época, levando-se em consideração as dimensões do território brasileiro, era extremamente difícil organizar um campeonato nacional, o que aumentava a importância das disputas estaduais. Outro ponto é que os estaduais serviam como uma espécie de qualificatório para as disputas nacionais. Nesse bolo todo, ao incluirmos as disputas Nacionais e Estaduais, pode-se dizer que no Brasil se jogava mais. E ainda haviam as excursões promovidas por dirigentes ávidos por lucro. O próprio João Saldanha afirmava (no livro Histórias do Futebol) que se fazia uma excursão para o interior de algum estado para 2, 3 dias depois, ir para uma disputa oficial.
Então podemos dizer que Pelé só marcou tantos gols por ter jogado bem mais que seus concorrentes? Talvez, isso fica à gosto do freguês (mas é fato que grande parte dos gols de Edson saíram desses jogos amistosos). O foco aqui era dizer que; ao se falar de futebol, especialmente o de um outro país qualquer, que se estivesse ciente de suas peculiaridades. Somente.
No caso brasileiro, se jogava menos nas competições nacionais do que na maioria dos países da Europa. Àquela época, levando-se em consideração as dimensões do território brasileiro, era extremamente difícil organizar um campeonato nacional, o que aumentava a importância das disputas estaduais. Outro ponto é que os estaduais serviam como uma espécie de qualificatório para as disputas nacionais. Nesse bolo todo, ao incluirmos as disputas Nacionais e Estaduais, pode-se dizer que no Brasil se jogava mais. E ainda haviam as excursões promovidas por dirigentes ávidos por lucro. O próprio João Saldanha afirmava (no livro Histórias do Futebol) que se fazia uma excursão para o interior de algum estado para 2, 3 dias depois, ir para uma disputa oficial.
Então podemos dizer que Pelé só marcou tantos gols por ter jogado bem mais que seus concorrentes? Talvez, isso fica à gosto do freguês (mas é fato que grande parte dos gols de Edson saíram desses jogos amistosos). O foco aqui era dizer que; ao se falar de futebol, especialmente o de um outro país qualquer, que se estivesse ciente de suas peculiaridades. Somente.
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