quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mercantilização

Recentemente, o empresário Sony Douer confirmou que o Guaratinguetá sairá da cidade homônima e irá para Americana. Isso tudo envolve uma grande polêmica. Primeiro; o time foi criado por entusiastas do futebol, desolados com o fim da Esportiva de Guaratinguetá, e pela prefeitura. Em 2004, o já citado empresário chega com a proposta de gerir o futebol profissional do time. Os resultados vieram rápido, e com o auxílio de Carlos Arini, diretor de futebol, que re-chegou ao Santo André, montava bons times, sendo que o ápice foi a campanha do Paulistão 2008, em que a equipe liderou a fase de pontos, mas acabou caindo nas semi-finais para a Ponte Preta. Apesar do rebaixamento no estadual do ano seguinte, de maneira inesperada conseguiu o acesso da Série C para a Série B. A torcida começava a crescer e a construir uma tradição na região, que já conta com o São José e com o Taubaté.


Torcedora mirim do Guará desolada


Bem, querendo mais apoio financeiro, o empresário começou a pedir mais recursos, a prefeitura e os empresários locais não cederam. Aí entra o 2º ponto da questão. A prefeitura da cidade de Americana, tendo notícias disso, fez uma oferta de R$10 milhões para tirar o time de Guaratinguetá, oferta que foi aceita por Sony. O problema é que a cidade já tem um time, o tradicional Rio Branco, que está afundado em dívidas, muitas dessas dívidas contraídas no mandato do presidente Chico Sardelli, tido como um dos piores da história do clube. Sardelli é vice-presidente da FPF, além disso, foi candidato a deputado estadual, mesmo sendo um recordista de faltas no congresso, pois entre 2007 e 2010, compareceu a somente 18 sessões. No mandato no Rio Branco, logo após o time ter conquistado o acesso a elite do Paulista como vice da Série A2 de 2009, ele arquitetou a saída da empresa Talent's Sport, que montou o elenco do acesso, para poder ficar com o dinheiro das cotas televisivas inteiramente para si. Resultado; montou um time medíocre, que foi rebaixado de maneira vergonhosa. Com tudo isso, ele deixou o Rio Branco na mão, com uma montanha de dívidas. Pra se ter idéia, o clube teve de leiloar sua sede social, e leilou a um preço de pinga, pois a gestão Sardelli deixou ela às traças, ou melhor, aos mosquitos da dengue que habitavam as picinas. E depois de ter deixado o Tigre nessa situação, arquitetou a vinda do antigo Guaratinguetá e atual Americana.

Só que a população está extremamente insatisfeita com isso. Não por causa da situação do Rio Branco, já que infelizmente com o passar dos anos e com as campanhas ruins (fruto de administrações incompetentes e corruptas) deixou de dar valor ao time, exceto por uma minoria abnegada. Mas sim por que a cidade tem gravissímos problemas de infra estrutura, sendo que não pode se dar ao luxo de pagar R$10 milhões por um time. Enquanto a população perde, alguém ganha com isso tudo, de Sony a Sardelli.

Mas essas pessoas nem esperaram o ano acabar para fazer isso. O finado Guará, mesmo depois de confirmada a transferência para Americana (já mostrou novo distintivo e camisa), continuará a mandar seus jogos em Guaratinguetá. Nisso, a torcida começou a se manifestar; queimou camisas do time e comemorou os gols do adverários (no caso, o ICASA do Ceará, que também tem uma história complicada, mas já acertada). Equanto isso, em Americana, com o perigo do Rio Branco fechar, a torcida e a atual diretoria começaram a se articular e conseguiram uma parceria para disputar a Série A2 ano que vem. E voltando para Guaratinguetá, a um forte movimento de refundar o time, renegando o projeto do Mantiqheira, pois o novo-velho time carregaria as mesmas características do recém finado.

Tamanha quantidade de mudanças de sede já começou a constrangir Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol. Recentemenet, foi feito um acordo entre a Rede Globo e os 4 grandes em relação as cotas televisivas, relegando os clubes do interior e aos menos fortes da capital uma cota paupérrima. Isso é uma contradição bem típica do capitalismo; em sua busca pelo lucro, ele tem de acabar com algumas tradições que vão em choque disso, como no caso do futebol, o regionalismo, um entrave a livre circulação de capital, no caso, os clubes empresas, especializados em vender jogadores. Só que todas essas mudanças, embora contem com a passividade da FPF, vão enfraquecer o futebol do interior do estado, e com os acordos em benefício dos 4 grandes em SP, e com políticas desse mesmo tipo nos outros estados, os estaduais, tidos como deficitários, mais atrapalham do que ajudam, podem acabar, o que dificultaria em muito a vida desses pequenos clubes empresa, que não teriam mais tanta visibilidade para vender o seu produto, e não poderiam obter o tão sonhado lucro. Esse empase é típico do modelo econômico predatório e repleto de contradições que é o capitalismo. O futebol, como atividade de massas, é um espelho das questões postas na sociedade, e esse é um de seus vários reflexos na sociedade do capital.

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