sábado, 5 de fevereiro de 2011

Mais uma Entrevista

Já entrevistamos técnicos, acessores de imprensa, entre outros, mas até o momento, vergohosamente, não entrevistamos nenhum torcedor, jogador, repórter ou outro profissional, ou figura, do futebol. Hoje, trazemos uma entrevista com Aline Farias, repórter que cobre a gloriosa Portuguesa Carioca. Quase sempre aqui no blog, temos informações da realidade dos clubes das divisões inferiores paulistas, mas quse nunca dos fluminenses. Bem, essa lacuna já será preenchida, exatamente...agora;

1-Como começou no jornalismo?

Comecei bem cedo, em 2008, quando tinha 16 anos. Conheci um repórter na arquibancada do Luso-Brasileiro, Wagner Luis, fui entrevistada por ele ao vivo para a rádio que trabalho até hoje, a Fluminense 540 AM. O jogo era entre Fluminense e Cabofriense, final do estadual de juniores. Meu atual chefe estava na escuta e o repórter disse pra eu procurar o Garcia Jr. Fiz isso e como precisam de repórteres me convidaram a participar da equipe da rádio.


2- Como começou a cobrir a Portuguesa Carioca?

A Portuguesa Carioca foi o primeiro clube que cobri em minha vida. Por morar na Ilha do Governador, onde se localiza a sede do clube, era muito mais fácil conseguir notícias e por não ser um clube de grande apelo da imprensa, notícias sempre em primeira mão. Cobri outros clubes pequenos em jogos da série C e D do Brasileiro, como o Caxias, Madureira, América. Mas estou na Portuguesa desde 2008, quando comecei.


3- O que pode dizer sobre a estrutura dos times tidos como "pequenos" do Rio de Janeiro? Os estádios estão em que condições?

As estruturas não são as melhores, infelizmente. Hoje em dia, os que detêm as melhores condições são os ‘clubes empresa’, os tradicionais têm pouco investimento, alguns parecem abandonados. Não posso generalizar, mas há estádios muito ruins, caindo aos pedaços e por vezes interditados. Vejo que, atualmente, os clubes pequenos do RJ devem e muito aos de outras cidades do Brasil, como os de São paulo. Vejamos que o Bangu, vice-campeão Brasileiro, esteve a pouquíssimo tempo na série B do Carioca, idem o América e poucos aspiram a algo em qualquer competição Nacional. Outro exemplo é Duque de Caxias, está na série B do brasileiro e não joga em seu estádio. Fui algumas vezes ao "Marrentão" e entendendo perfeitamente não aceitarem que se jogue lá, de fato um estádio acanhado. Tá certo que o Caxias não possui uma grande torcida, mas a nível de Campeonato Nacional é necessário um estádio mais apresentável.


4- É lógico que os 4 "grandes" têm maior número de torcedores, mas e os demais? A média de público dos demais times é grande?

Em alguns jogos temos bom público. Faço uma ressalva aos times do interior do Estado, como o Goytacaz que possui uma enorme torcida. Acredito que uma das maiores entre os pequenos. Mas infelizmente, percebo jogos ainda com baixo público. Talvez seja pela fase ruim que passam os times menores. Parece-me que o amor bairrista pelo seu time ainda existe, mas diminuiu com o tempo. Mas nada que não mude com um investimento do clube. Bastam bons resultados para que a torcida volte aos estádios.

5- Víamos outros times do estado indo bem nos campeonatos nacionais, como América, Americano, Bangu, Campo Grande, ente outros. Na sua opinião, o que ocorreu para que estes times decaíssem tanto?

Falta de planejamento e investimento. Nada sem planejamento a longo prazo funciona. Fazer time ‘as pressas’ nunca deu e nem dará resultado. Há equipes, como a própria Portuguesa Carioca, que disputam uma competição por ano: contratam em janeiro, o campeonato começa em fevereiro, a falta de entrosamento não permite que o time vá bem, não se classifica para a Copa Rio e fica parado o resto do ano. Os jogadores são emprestados e voltam somente em janeiro do próximo ano. Permanece um ciclo que parece não ter fim. Não há patrocínio, não há estrutura, não há planejamento para o futuro. Um técnico não se mantém no cargo durante muito tempo, o mesmo acontece com o jogador.

6- A mídia também dá espaço para os demais clubes? A cota televisiva é justa, atendendo as necessidades dos clubes?

Os clubes pequenos sofrem bastante, não há divulgação dos jogos, eles não são televisionados, poucas rádios os transmitem, no jornal é muito raro que saia alguma nota sobre o campeonato da série B do Estadual e quando saem, é do time considerado tradicional. Na elite do Carioca, a situação é menos critica, mas mesmo assim é desigual.

7- Todos nós sabemos os problemas que os clubes de menor expressão passam, como falta de apoio da Federação e dificuldades financeiras, mas há algum ponto específico do RJ?

O descaso de muitos com os clubes pequenos me assusta. Quem imaginaria um América na série B do Estadual como já aconteceu? E o Campo Grande, que hoje disputa a série C do Carioca? Onde estão os dirigentes que não se preveniram contra uma situação complicada dessas? Não basta acreditar, como ainda se acredita, que tradição mantém clube em determinada divisão. O Goytacaz, que é um clube tradicional, sabe bem disso: está sim na série C do Carioca, em disputa direta com o modesto Angra dos Reis, seu nome não o livrou do rebaixamento.

8- Sobre a negligência da FERJ (vi um dos últimos tópicos da comunidade da Portuguesa Carioca, sobre o erro na contagem do placar), ela é recente ou vêm de mais tempo?

A Federação do RJ deixa a desejar. Falo isso pra não escrever coisas piores. Nunca se tem a informação certa, mas muitos boatos rolam sobre esta atual administração da FFERJ. É tudo feito as pressas, campeonatos atrasam, já vi jogos (inclusive da Portuguesa, na categoria de juniores) que o trio de arbitragem simplesmente não apareceu e não teve jogo por isso, o site divulga informação incorreta. Definitivamente tem muito a se melhorar e não é de hoje não. Vejo uma desorganização incrível, de verdade.

9- Sobre as divisões inferiores do campeonato estadual, como elas são vistas por torcedores, empresários, mídia e federação?

Quase nula. Pouca divulgação, pouco investimento, pouco patrocínio, poucos torcedores. Têm sua exceção, claro, mas é raro vermos times realmente estruturados. Na 3ª divisão então, é mais raro ainda. Os clubes parecem renegados e não é incomum que desistam, pelo contrário, muitos pedem a famosa ‘licença’ da competição por não terem como arcar com as despejas. Muito triste. Com todos esses pontos negativos, cada vez menos a torcida comparece, idem a mídia, que dá mais importância aos clubes que dão audiência.


10- Quais são as dificuldades de ser jornalista que cobre as divisões inferiores do futebol fluminense?

Bom, pra mim a maior dificuldade é o acesso aos estádios e a falta de estrutura dos mesmos. Estádios longes, em péssimo estádio de conservação, muitos não têm cabine de rádio para transmitir a partida, são mal localizados e mais, muitas vezes nem vale a pena fazer um sacrifício tão grande pra transmitir jogos pequenos, tendo em vista a pouca torcida que, de fato, acompanhará a partida. Cansei de ver times sem assessor de imprensa, que não têm quem nos divulgue as informações corretas, além do que conseguir uma informação prévia do elenco e técnico é um sacrifício, pois não possuem site ou nenhum veículo de comunicação oficial do clube.

Um comentário:

  1. Muito obrigada pelo espaço aqui no blog. =)

    Espero que todos tenham gostado.

    Grande beijo,

    Aline Farias

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