quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre a "Itália"

Aqui estamos novamente, abordando questões nacionais, étnicas, históricas no futebol. Cremos que grande parte das pessoas que leiam isso aqui, e que acompanhem futebol, veêm um jogo ou outro do Campeonato Italiano. Times mundialmente famosos, que em possuem em sua equipe jogadores de renome, que estão entre os melhores do mundo, além é claro de equipes que representam cidades históricas, charmosas, como a Udinese, de Udine, cidade que possui o maior festival de cinema oriental da Europa.

Bem, mas para os que acompanha, sabe que o Certame Italiano é extremamente desequilibrado. Apesar de 16 equipes já terem vencido o campeonato, é bem desequilibrado. Não especificamente no sentido econômico, mas regional. "Como assim?", somo indagados. A Itália, apesar de não parecer, é um país novo. A Itália se unificou no final do século XIX. Antes disso, era um punhado de países, reinos, ou coisa que o valha, independentes, cada qual com uma língua e uma cultura própria. A idéia de unificação foi concebida pela elite do Norte do país, que procurava aumentar seu poder militar e econômico. No final das contas, a Itália foi unificada, com o Norte ficando rico, industrializado, e o Sul, exencialmente rural e pobre, e nesse processo de unificação, a cultura do Norte foi imposta de maneira violenta, ignorando diferenças culturais, sendo a língua oficial a derivada da região de Florença. E essas marcas perduram até hoje.

Ao contrário do senso comum, a Itália não é um país rico, não em sua totalidade. Milão, Turim, Roma, Florença, Gênova são cidade riquíssimas, mas Palermo, Nápoles, Bari são pobres. É algo próximo ao que vivemos no Brasil, com o Sul rico e o Norte-Nordeste pobres, e as dificuldades no Sul da Itália são muito próximas dessas regiões do Brasil. Aqui, temos problemas de racismo, e em menor grau, sectarismo. Movimentos que nem "São Paulo para os paulistas", ou aqueles de separação do Rio Grande do Sul, que ultimamente ganham força entre setores das classes médias dessas regiões (vide Mayara Petruso e suas twitadas), mas que não são respondidos de maneira recíproca pelo Norte-Nordeste. Porém na Itália, a situação é tensa de todos os lados, pois ao contrário do Brasil, constantemente habitantes do Norte negam o caráter de "italiano" aos do Sul.

A desigualdade econômica reflete no futebol no sentido de que dos 16 campeões italianos, só dois sejam do sul; o Cagliari, da Sardenha, e o Napoli, de Nápoles. Não é preciso dizer que essas equipes, além de serem do Sul, atrairam o ódio de extremistas do Norte, pois também foram vitoriosas. E ódio só gera mais ódio, que começou a ser comum entre extremistas do Sul.

Bem, aqui já vemos isso, pois só Bahia e Sport ganharam o Campeonato Brasileiro. Mas um dos principais pontos vai numa direção; Seleções Nacionais. Aqui, o futebol foi usado como elemento unificador, como algo que define o "ser brasileiro", lá, também, mas como o processo político foi bem violento (não que aqui não tenha sido violento, mas contou com todo um contexto pra não deixar que isso explodisse, leia-se, redes de poder e influência, além de uma enorme dimensão terriorial),e mais recente, essa contradição ainda é bem presente.

Nisso, damos um salto, até a década de 80, quando o Napoli começa a vencer, escorados por uma geração genial, que continha Diego Maradona. O Napoli passou a ser mais odiado, e Maradona também. Mas como o próprio Pibe diz, ele amava Nápoles, e os napolitanos o amavam. Aí, temos a Copa do Mundo de 90, sediada na própria Itália. Tudo muito bonito e pacífico, com a mídia empurrando o "ser italiano" goela abaixo daqueles que antes, e depois, da Copa, lhe negavam isso. A relação Nápoles-Maradona era tão intensa que os napolitanos mais torciam pra Argentina do pela Itália.

Mas aí, veio um jogo decisivo entre Argentina e Itália...em Nápoles. A imprensa italiana chamava todos os cidadãos a torcerem pela Squadra Azurra. Mas Maradona interveio. Alguns dias antes do jogo, quando estava sendo entrevistado por um canal italiano, ao vivo, ele manda isso; "em 364 dias, eles (as elites do Norte) dizem que vocês napolitanos não são italianos, negam-lhes isso, e hoje, eles vem e dizem pra torcerem pela "Itália"? Digo que jogarei pela Argentina, mas em 364 dias, eu sou napolitano". Bem, isso atraiu a ira dos do Norte e a a paixão dos do Sul, que corresponderam, e torceram pela Argentina naquele jogo, que terminaria com a vitória dos sul-americana.

Indo para 2010, existem vários problemas envolvendo torcedores, podemos usar o termo hooliganismo, pra estabelecer um parelelo, ainda que não seja a palavra ideal. Os Irreducibili da Lazio já são notórios pelo seu ideário fascista, mas as tretas estão indo pro âmbito regional. Já existe uma conversa da região da Padânia, no extremo norte do país, na fronteira com a Suíça, querer se separar. Isso tudo reflete nos estádios, lugar onde podem ocorrer manifestações de qualquer tipo.

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