quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre Futebol Feminino e Eurocentrismo


Tá bom, não é tão recente assim, mas ainda assim, é importante. Em outubro passado, a FIFA proibiu as seleções de futebol feminino de países islâmicos de que ussassem o hijab, véu que cobre a cabeça das mulheres, e tal proibição culminou na exclusão da Seleção Feminina do Irã do Campeonato da Juventude. Logo quando várias ligas femininas surgiam nos países islâmicos, sendo a mais recente na Argélia, e que outros em países, em que os muculmanos são minoria, medidas visando a inclusão destas atletas estão sendo tomadas, como na Austrália.

O digníssimo presidente da FIFA, Jossep Blatter, possivelmente, não deve dar a mínima importância para isso. Ele afirma que o futebol feminino deva ser jogado com uniformes mais "justinhos", a exemplo do vôlei. Além disso, a FIFA prevê que simbolos políticos ou religiosos não devem entrar em campo, e esse foi o principal argumento contra as Seleções Femininas desses países. Muito bem, camisa com mensagens políticas ou religiosas já foram excluídas, mas vemos uma série de símbolos ainda. O da CBF, por exemplo, é uma cruz, assim como da Federação Portuguesa, e por que nisso não podemos incluir a Estrela de Davi presente na camisa da Seleção de Israel? Ao que parece, qualquer símbolo religioso, desde que não seja islâmico, é válido.

Uma outra questão encarada com displicência pela FIFA é em relação a datas religiosas. Não se joga no Natal, mas por quê deve-se jogar, então, no Ramadã (período no qual os muçulmanos tem de ficar da alvorada até o por do sol sem comer nem beber, e que em 2011 se dará entre 1 e 29 de Agosto)? Não é necessário dizer que isso causa uma série de choques quando jogadores islâmicos vão para a Europa. O Islã prevê uma série de motivos que podem excluir o fiel do jejum, mas ele terá que executá-lo numa outra data. Um dia, quando José Mourinho ainda era técnico da Inter de Milão, ele substiuiu o jogador ganense Sulley Muntaria ainda aos 30 do 1º tempo. Ao fim do jogo, o treinado disse que o Ramadã poderia atrapalhar o jogador. Claro que isso provocou muita polêmica. O jogador Demba Ba, que atualmente está no West Ham, da Inglaterra, afirma que faz jejum todos os dias em que há partidas, e que pede que não seja favorecido por isso.

A FIFA não faz nada, sequer uma mudança de horário ou coisa que o valha. Nem engatar uma discussão sobre o assunto. Muitos jogadores muçulmanos não podem seguir estritamente este ponto, e alguns que seguem, levam um tempo para se adaptar, e é sábido que não ingerir água num dia inteiro, para depois jogar uma partida professional, que produz um desgaste fisíco imenso, não é recomendável. É uma discussão complicada, mas ninguém até agora foi ouvir esses profissionais, atletas, treinadores, entre outros envolvidos, sobre isso.

Mas também é sábido o pensamento da FIFA sobre isso, claramente exposto numa atitude do então presidente João Havelange, que ao ouvir as reclamações de jogadores que estavam na Copa de 86, no México (jogando ao 12:00 para satisfazer as necessidades das emissoras européias), mandou que se eles se calassem e se preocupassem em jogar.

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