domingo, 23 de janeiro de 2011

Sobre o último Mundial Interclubes


Em dezembro de 2010, vimos uma das maiores surpresas no futebol nos últimos tempo; o Mazembe, campeão da Liga dos Campeões Africanos, derrotar o Iternacional, campeão da Libertadores, por 2 x 0, fora o baile. Mas um fato curioso é que a imprensa, não só brasileira, com internacional, tratava o Mazembe apenas como "africano", e poucas vezes como "congolês". Isso não ocorria com os outros competidores. Ressaltava-se que o Internacional era o representante Sul-Americano, a Internazionale o europeu, o Seongnam pela Ásia e assim por diante, mas em quase nenhum momento, sua nacionalidade era omitida.

Por quê o Mazembe? Não estamos colocando aqui teorias conspiratórias, mas fica estranho não falar absolutamente nada sobre o Congo. Absolutamente nada. Nem no campo da cultura, com alguma curiosidade ou coisa que o valha, nem no futebol, com o nome de algum jogador famoso, sobre a situação da seleção nacional, sobre a participação na Copa de 74, ainda com o nome de Zaire.

Um pouco de História; o Congo era uma possessão da Bélgica até 1960, quando após uma forte mobilização da população, conquista a independência. A exploração belga foi das mais brutais, deixando profundas marcas na economia, deixando o país numa situação de penúria, sendo um dos mais pobres do mundo. Depois da independência, o país passou por uma longa ditadura (65-97), que obteve um grande apoio dos EUA e da própria Bélgica. Enquanto esse governo beneficiava o capital estrangeiro, a população sofria, tanto que, em meados dos anos 90, uma guerra civil estorou, muito em parte a questões étnicas, fundamentalmente, ruandeses da etnia hutu fugiram de seu país por causa do etnocídio que estava ocorrendo em seu país.

As duas etnias tinham diferenças, mas elas nunca geraram um conflito de grandes proporções. Porém, com a política Imperialista do sec. XIX, a tática era dividir para melhor governar. O Estado europeu que invadiu Ruanda foi a Alemanha, mas com a derrota na 1ª Guerra Mundial, o governo belga passou a explorar a região, e conseguiram a proeza de serem ainda mais cruéis que os alemães. Primeiramente, eles se aliaram a elite tutsi, minoria que governava a região desde antes do colonialismo europeu, relegando os hutus a um plano de sub-humanidade. Depois, os hutus se organizaram e tomaram o governo dos tutsis. Quando Ruanda conquistou a independência, em meados dos anos 60, a elite hutu governava. Devido a interferência européia, as duas etnias negavam a humanidade uma da outra. O governo ruandês explorava a sua população, em benefício do grande capital, e criava medidas discriminatórias contra os tutsis.

Assim, na década de 90, os tutsis organizam mílicias que visam derrubar o governo. Por sua vez, o governo responde com um programa de extermínio de tutsis, convocando civis para matar todo aquele que fosse tutsi, e hutus que fossem moderados e contrários a tal extermínio. Em 100 dias, quase 1 milhão de pessoas foram mortas, a maioria sendo da etnia tutsi. Nisso, vários fugiram de Ruanda, e foram sobretudo para o Zaire (atual Congo). Os tutsis que foram para lá não passaram por maiores problemas, mas o 1 milhão de ruandeses hutus que foram pro Zaire passaram, e ainda passam, por uma série de problemas. Desses, vieram vários hutus que organizaram várias mílicias, e junto dos hutus do Zaire, passaram a organizar uma ofensiva contra os tutsis dos dois países.

Nisso, começa uma guerra civil que até hoje deixa marcas nos dois países. Hoje, um grande número de pessoas morrem em decorrência da fome, e de epidemias causadas por falta de saneamento básico. No Congo, a violência contra a mulher é a mais agravante do mundo, chegando ao ponto de muitos nas regiões mais vitimadas pelo confronto considerá-la como "normal". Tanto as mílicias, como o exército oficial do Congo, usam dessa violência, e isso está crescendo entre os civis. Mas muitos estão mais preocupados com os minérios que estão no território congolês, avaliados em trilhões de dólares. Não estamos fazendo juízo de valores, é impossível fazer uma comparação entre culturas, dizendo que uma é mais "evoluída" que a outra, e quando isso acontece, é puro preconceito. Mas o que estamos dizendo é que todos estes problemas quase não ocorriam antes da interferência imperialista. O governo congolês está mais preocupado em "reconstruir" o país sob as normas do FMI do qualquer outra coisa, e as potências capitalistas seguem apenas essa preocupação.

A imprensa como um todo não falou nada sobre isso. O próprio time do Mazembe não deu sequer um alerta sobre a situação. "O nosso país está passando por uma situação complicada, ficaríamos gratos com qualquer ajuda", ou qualquer coisa do genêro. Talvez fosse difícil, tendo em vista que o presidente do time, Moise Katumbi, é o dono de uma das maiores companias de mineração do país. Um aviso nesse sentido iria contra os interesses de muitos de seus clientes. Talvez não seja tão difícil supor porque houve silêncio em relação ao "país" do Mazembe...

Nenhum comentário:

Postar um comentário