segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Algumas perguntas

Ser torcedor é algo único. O torcedor se sente motivado a fazer o que for para apoia sua equipe. E ele sempre sonha em ter algo acima da média, e esse algo, irá para o clube. Devotará o corpo e a alma pelo seu clube, fazendo o inimaginável. Por exemplo; se for milionário, ele não hesitará em investir a maior parte de sua grana no seu time de coração. Mas acima disso tudo, todo torcedor deseja uma coisa; se pudesse, seria jogador. Começaria a carreira de jogador no time, encerraria nele, e começaria a de treinador, dirigente, ou coisa que o valha.

Vemos alguns exemplos, como o de Marcos do Palmeiras, que foi campeão do mundo pela seleção e rebaixado pelo clube no mesmo ano, em 2002, recusando uma oferta do Arsenal para jogar a Série B. Fora do Brasil, vemos Fernando Yeste, do Athletic Bilbao, que decidiu que jogaria de graça pelo clube, ou Verón, do Estudiantes, que tirou do próprio bolso para levar para La Plata alguns dos jogadores que iriam compor a equipe campeã da Libertadores em 2009. Existem alguns casos mais intensos, como o de Castilho, goleiro do Fluminense, que quando fraturou seu dedo mindinho pela quinta vez, tendo que se submeter a um tratamento de dois meses, não hesitou em mandar amputar seu dedo, para que em duas semanas depois, pudesse defender seu clube.

Mas nenhum caso é tão extremo quanto o de Abdón Porte, jogador do Nacional de Montevidéu. Porte era do interior do país, podendo-se dizer que era um verdadeiro "gaúcho", tanto que seu apelido era "El Índio", e foi parar no Nacional em 1911. Lá se destacou por ser um volante de extremo poder de marcação, e com um grande espírito de liderança, o que lhe rendeu a faixa de capitão. Porte amava o Nacional, era a sua vida, sua religião, sua alma. Quando se via ele em campo, mais do que um jogador, via-se um torcedor que amava o seu time de maneira única e incondicional. Ele vivia o sonho de qualquer torcedor; viver todos os momentos do seu clube, os bons e os maus. Vale lembrar que aqueles eram os tempos do amadorismo no futebol uruguaio, logo, ninguém ganhava nada. Mas para Porte, não havia mais nada para ser ganho. E assim foi por um tempo.

Só que o tempo não para, e com ele, se vai o vigor físico. Ainda que Porte estivesse com apenas 26 anos, já não apresentava o mesmo desempenho de antes. Nisso, a diretoria do Nacional decidiu o substituir por outro atleta. Foi um baque para Porte. O privavam de sua razão de viver, e se a vida não podia ser vivida em sua plenitude, do que valia viver então? Então, na noite de 4 março de 1918, depois de um jantar entre os membros do Nacional, em comemoração a uma vitória obtida no mesmo dia, Porte foi para o estádio Gran Parque Central, onde o Nacional mandava seus jogos (e que anos depois seria um dos palcos da primeira Copa do Mundo). Dentro do estádio, se dirigiu para o meio do campo, e lá, disparou um tiro contra seu próprio coração. Deixou alguns bilhetes por perto, e um deles dizia "Nacional, ainda que vire pó, como pó continuei a te amar, não me esquecerei por um instante, o quanto te amei. Adeus para sempre".

Esse caso não só comoveu, como ainda comove, e leva a pergunta; "um clube de futebol merece tanto?". Afinal, o que é um clube? Certamente não é um apanhado de torcedores, jogadores, técnicos e dirigentes, mas há um clube sem esses elementos? Não cremos que essa pergunta pode ser respondida, mas sabemos que caso um clube deixe de existir oficialmente, ele seguirá existindo dentro dos torcedores. Mas é algo pelo qual vale a pena morrer? Nós cremos que não, mas essa é uma pergunta muito subjetiva, vai de cada um. Mas há uma unanimidade; é algo pelo qual vale a pena viver.

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