quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mudança

As empresas estão tomando conta do futebol, e vemos um alto número de clubes-empresas no mundo inteiro. Inserido no capitalismo (ainda que de maneira dependente e submissa), o Brasil não foge à regra. O prinicpal pólo de clubes-empresa no país é o estado de São Paulo.

O futebol é algo meio maluco. O torcedor vê no clube muito mais do que um time de futebol, vê nele um fator de identidade, uma divindade, que ele vai cultuar em todo o santo jogo. O futebol abarca o nacionalismo e o regionalismo. Não raro, muitos torcedores do interior do Brasil deixam os clubes das capitais e vão torcer por times de sua região, que embora não sejam tão vitoriosos como os primeiros, estão mais perto, são mais palpáveis, e carregam toda uma tradição regional. Noroeste, Ferroviária e Mauaense têm como mascotes locomotivas, pois Bauru, Araraquara e Mauá são cidades com fortes marcas das ferrovias, e o XV de Piracicaba retrata o típico capiau na símpatica figura do Nho Quim, para ficar em poucos exemplos. Bem, uma empresa poderia abosrver essa carga emocional? Não. E supondo que pudesse, pela sua ótica mercantil, de conseguir lucro, tão somente o lucro, ela respeitaria isso? Se importaria com o torcedor e com a cidade que a abraçou? O Grêmio Barueri, que virou Grêmio Prudente por razões meramente comercias responde essa pergunta.

Recentemente, surgiu o boato de que o Guaratinguetá Futebol Clube Ltda se transferiria para a cidade de Americana. Bem, o boato foi confirmado. A empresa Sony Sports, que se apoderou do Guará, já que este não foi criado como um clube empresa, confirmou que recebeu uma proposta de Americana e a está estudando. Isso já enfezou uma cidade. Só que ao contrários das anteriores, isso acabou enfezando duas cidades. Americana já possui um clube, o tradicionalissímo Esporte Clube Rio Branco. O Rio Branco vive uma crise financeira sem precendentes, culpa de administrações incompetentes e corruptas. Tendo como base o desempenho da equipe no Paulistão desse ano, a diretoria dispensou uma empresa, a Talent's (que havia montado o elenco vice campeão da Série A2 do ano passado), apenas para ficar com a renda das transmissões televisivas. Montou um time medíocre, caiu para a Série A2 de novo, e ninguém viu o que aconteceu com esse dinheiro. Pior, um dos antigos presidentes é vice-presidente da FPF. Jogo de interesse na política do futebol paulista. A crise é tamanha que o clube teve de leiloar sua sede social, a qual estava praticamente abandonada pela atual diretoria, sendo utilizada apenas por mosquistos da dengue. O estádio Décio Vitta, que agora é municipal, não foi liberado pelo MP para o Campeonato Paulista por falta de estrutura. E quando se fala em diretoria, fala-se do conselho. Como assim? A diretoria do Rio Branco tá rachada; alguns diretores querem pagar as dívidas, alguns conselheiros querem licenciar o time do profissionalismo, entre outras coisas.

Resumo da ópera; em Guaratinguetá a prefeitura negocia com a empresa para manter lá um time que foi fundado pela própria cidade, e a empresa que gere o time, a Sony Sports, está vendo de ir para Americana, pois lá terá melhores condições, pois empresários e prefeitura estão dispostos a investir num novo clube e deixar o Rio Branco às moscas, sendo que muitos que estão na prefeitura colaboraram diretamente para a atual situação do time de Americana.

Nessa sexta feira, dia 24, torcedores do Guaratinguetá sairão do Vale do Paraíba em direção a São Paulo, para pressionar a FPF, visando assegurar a permanência do Guará em sua cidade. Só que a entidade já sinaliza a aprovação de um projeto de um novo clube na cidade, a Associação Desportiva Mantiqueira, que se efetivada, irá disputar a Segunda Divisão do Campeonato Paulista. É engraçado ver que os diretores da FPF pensem que uma cidade vai trocar um clube pelo qual batalharam para que ele estivesse onde está agora por outro que irá ter de fazer todo esse percurso novamente. Pensam que o torcedor, aquele que vê no clube algo indescrítivel, e que graças a ele se encaixa numa coletividade, numa espécie de tribo ou família, vai aceitar isso tranquilamente. Esperamos ver os torcedores de Guaratinguetá aqui sexta, e damos nosso apoio e solidariedade à eles e aos torcedores do Rio Branco, que já manifestaram sua opinião sobre isso...

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