

Esse tipo de coisa não é tão incomum no futebol, mas ainda assim, são impactantes. O caso em específico que vamos abordar aconteceu na década de 70, na Espanha, na região do País Basco. Os que acompanham o futebol da região sabem que a equipe de maior sucesso lá é o Athletic Bilbao, o time que só aceita em suas fileiras jogadores que ou nasceram no País Basco ou são descendentes de bascos, como foi o caso do goleiro brasileiro José Vicente Biurrun. Mas o País Basco possui outras equipes de renome, como o Real Unión de Irún, que eliminou o Real Madrid da Copa da Esoanha em 2008 (4 x 3 em Madrid e 3 x 2 em Irún) Deportivo Alavés, que chegou na final da Copa da Uefa de 00/01, perdendo por 5 x 4 pro Liverpool, além é claro do Real Sociedad, que ganhou o Campeonato Espanhol em 2 oportunidades, além de ter disputado pau a pau o título de 02/03 com o galáctico Real Madrid. No País Basco, tendo em vista os maiores sucessos esportivos, a maior rivalidade é entre Athletic Bilbao e Real Sociedad. Rivalidade que foi acirrada quando o Athletic institui a política e
m relação a jogadores e quando o Real Sociedad adotou o prenome "Real". E continuou tudo assim até 1939, ano em que estorou a Guerra Civil Espanhola, e depois da Guerra, vimos uma ditadura alinhada com o nazi-fascimo, comandada pelo general Franco. Essa ditadura queria "espanificar" o país, ou seja, acabar com as culturas regionais. O uso de qualquer símbolo, ou até mesmo falar qualquer idioma que não fosse o castelhano madrilenho resultaria em prisão, e sabe-se mais o que. E uma pequena mostra disso foi que o Athletic teve de mudar seu nome para "Atletico", e o Real, por sua vez, ia adotar o nome da região em que fica, Donostia, mas esse projeto foi cancelado quando essa política começou. Mas a ordem de fuzilamento contra um presidente do Barcelona foi o incidente mais sério, e que visava mostar que não haveria espaço para manifestações culturais que fugissem do modelo idealizado pela ditadura. A região de Madrid representava tal modelo, e Franco não se cansava de dizer que o Real Madrid era uma das principais bandeiras da "verdadeira" Espanha. Regimes ditatorias sempre tentam "igualizar" a população ignorando diferenças regionais através de um molde, de um ideário.
Mas em 75, Franco morre, e percebe-se que a ditadura já estava mais do que desgastada, e se ela continuasse, poderia acarretar numa rebelião popular, coisa que não era nem um pouco desejada pelos governantes, que assim, começaram um processo de abertura. Mas ainda havia uma norma; a que proibia qualquer manifestação cultural das nacionalidades suprimidas. Se uma pessoa fosse flagrada com qualquer coisa que a ligasse com um tipo de regionalismo, seria presa e sabe-se lá o que mais aconteceria a ela. Isso era evidenciado pelo comando de Arias Navarro no governo, que ficou nesse posto desde que a saúde de Franco piorou, em 74, e lá ficou até 76, ano em que ocorreu o episódio desse texto.
Numa partida entre Athletic Bilbao e Real Socieda, pelo Espanhol de 76, foi emblemática. Todos estavam cansados de ditadura, e de poder se manifestar culturalmente apenas nos estádios. Nisso, os jogadores combinaram algo; entrariam no campo com a bandeira do País B
asco. Isso pode não parecer grande coisa, mas era, por uma série de motivos. Como já foi dito, apesar da morte de Franco, alguns decretos não foram anulados, e o que envolvia as outras nacionalidades presentes na Espanha ainda estava em vigor. E como em toda a ditadura, uma profissão que muita prospera é a de militar, pra onde quer que olhe, há algum. E ninguém era poupado. Não era por quê um jogador basco fosse ídolo local que ele escaparia da perseguição. Mas se fossem 22 jogadores e ídolos locais o tratamento provavelmente seria diferente.

Os jogadores conseguiram combinar isso um dia antesdo jogo, e quem ficou com a responsabilidade de confeccionar a bandeira foi Josean de la Hoz Uranda, jogador do Real. Urand
a pediu que sua irmã fizesse a bandeira, e assim foi feito. Mas tudo poderia ter ido abaixo, quando os guardas da Polícia Nacional que estavam no estádio pediram para revistá-lo. Por sorte, não viram a bandeira, e conseguiu entrar no estádio com a ajuda de um funcionário. Depois disso, pôde dar a bandeira para os dois capitães poderem entrar no gramado do estádio do Real, o Atocha. O zagueiro do Real, Kortabarria, e o goleiro do Athletic, Iribar, entraram em campo com a Ikurriña (nome da bandeira basca), para o delírio dos 30,000 torcedores, que celebraram juntos, menos o resultado final, que acabou 5 x 0 para o Real. Mas foi uma daquelas partidas em que o resultado pouco importou.


Nenhum comentário:
Postar um comentário