segunda-feira, 7 de março de 2011

Re-entrevista

Opre, estivemos longe, muito longe, num lugar sem muitos computadores, e por isso não atualizamos o blog com a já conhecida frequência. Mas hoje estamos aqui, com umas perguntas feitas para uma torcedora, Monique Torquetti, que visam esmiuçar o cotidiano das mulheres nos estádios.

1 - Antes de tudo, obrigado pela gentileza, cordialidade, e paciência, de nos atender. Por quê resolveu entrar numa torcida organizada, e quando o o fez? Houve alguma dificuldade nesse processo?
Bom, eu que agradeço o interesse sobre o assunto, que hoje em dia anda se discutindo muito e cada vez sendo crescente mulheres em torcida organizada. Eu não tenho uma data exata ou um jogo exato de quando entrei em torcida organizada, comecei a freqüentar o Barão (estádio do Xv de Piracicaba) em 2008, e aos poucos fui me apaixonando da torcida, de como 'torcer' de uma maneira diferente, não ficar sentado na arquibancada e observando o jogo, mas sim, pular o jogo todo, demonstrar o amor ao time o jogo todo, com gritos de incentivo, cantando o hino, falando o nome do jogador e tudo mais. A partir disso, o amor pela torcida foi crescendo muito, e quando vi, já estava totalmente envolvida com a torcida, todo jogo estava na 'geral', no meio de todo mundo, observando o jogo ao som da bateria, ao som de gritos e tudo mais. Dificuldade maior, não foi por parte da torcida, foi por parte dos meus pais (que até hoje não entendem), que tem aquele certo preconceito com as organizadas, de que todo mundo é violento, bandido, resumindo, tudo que a maioria das mídias falam contra as organizadas. Por parte da torcida, acho que aceitaram bem, alguns relutaram, ficaram de 'gracinhas', mas ao todo, foi bem tranqüilo.

2 - Com sua vivência no futebol, o que pode dizer sobre a realidade do torcedor, e mais especificamente, das mulheres, nos estádios?

O torcedor ao todo, já sofre bastante preconceito por ser de organizada, e como a maioria sabe, a policia brasileira ao todo, não está preparada para receber grandes públicos, jogos de conflitos, e muitas vezes até em um jogo comum. Eles tratam a gente como se fôssemos marginais, que vamos ao estádio para brigar, não entendem que vamos ao jogo para torcer para o time, incentivar e não buscar briga. As mulheres já são um pouco mais complicado, a maioria dos estádios não está preparada para receber um público feminino; os banheiros normalmente estão imundos, em situação precária, sem o mínimo de higiene, além do fato da ausência de policiais feminina em alguns estádios, para a revista, ou quando tem, é insuficiente, pois o numero de mulheres que freqüentam estádios está aumentando muito, e apenas UMA policial é muito pouco, e acaba não dando conta, e demorando mais para entrar ao estádio.

3 - Você começou a trabalhar num blog, o http://mulherestorcidaorganizada.blogspot.com/. Por quê resolveu fazer um blog? E além desse (e dessas perguntas que está respondendo), faz parte de outros projetos?
A criação do blog, foi mais para demonstrar a realidade de mulheres que frequentam as torcidas organizadas e o descaso nos estádios de futebol. Nós mulheres, sofremos preconceitos por parte de alguns garotos, sobre a nossa verdadeira intenção ao entrar para uma torcida, muitos pensam que vamos atrás de homens, que queremos nos aparecer e/ou não tem amor ao time, não torce de verdade, que está por 'farra'. Esse fato tem melhorado bastante, pois hoje em dia é poucos os torcedores que tem esse pensamento, a maioria nos respeitam, mas todos sabem que tem uma outra 'turista' no estádio que realmente a intenção é procurar homem, tanto é que quando acham, somem do estádio (kkk). O outro projeto que levo, é o blog Loucos pelo Interior (http://loucos-pelointerior.blogspot.com/) juntamente com outros colunistas, que tem como objetivo mostrar os times do interior, seus estádios e suas torcidas e promover esses times, que muitas vezes estão acabando por falta de incentivo.

4 - As mulheres estão ganhando mais espaço no meio futebolístico, como profissionais da mídia, torcedoras, atletas, entre outras funções. Mas infelizmente, ainda existem muitas dificuldades. Você poderia citar algumas? E como lidou com elas?

As dificuldades que temos, foi o que falei em cima, o descaso dos policias, dos estádios, o preconceito que muitas vezes sofremos. Quanto ao ponto da falta de policias, acho que ainda não consegui lidar, pois acho que não depende de mim ou de outra, e sim do ministério público perceber isso e mudar, espero que eles abrem logo os olhos sobre isso, porque muitas vezes é constrangedor chegar ao estádio e quase ser barrada por não ter policial apropriada para te revistar. Em relação aos estádio e seus banheiros, é realmente evitar entrar neles, porque alguns o cheiro é insuportável, as portas não fecham direito; no interior é totalmente precário isso nos estádios, por exemplo, em 3 anos que freqüento o Barão, só fui ao banheiro uma vez, e foi uma vez e nunca, pois realmente é complicado - os grandes estádios da capital paulista (Pacaembu, Morumbi, Palestra) estão mais preparados, os banheiros por exemplo são mais limpos. O preconceito é mais complicado, mas acho que com o tempo aprendi a conviver com isso, por exemplo, ignorar piadas, não ligar para comentários e etc.

5 - O XV é um clube tradicionalissímo, mas que não está em seus melhores dias. Na sua opinião, a que isso se deve?

O Xv está na situação que está hoje, por culpa da incompetência da diretoria anterior, que fez uma péssima administração, que visava a próprio bolso. O que ocorreu também foi parcerias que não deram certo, e acabou com o planejamento que era proposto, e o time foi decaindo, até chegar sair fora da competição nacional (campeonato brasileiro) e chegamos ao nosso 'pior', quando estávamos na terceira divisão paulista.

6 - O canto do "Caxárá de Fórfi" é algo único no futebol brasileiro. Você conhece a origem dele? E como a torcida do XV lida com isso atualmente?

O 'Caxára de Forfi' foi feito por ponte-pretanos, que tinha como objetivo 'zuar' o Xv, dizem que foi cantado pela primeira vez em um jogo de basquete. A torcida quinzista não encarou como zuação e hoje em dia é nosso hino popular. A divergências entre quinzistas sobre gostar do 'hino' e não gostar, por ter sido originalmente uma zuação.

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